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Cães descendem de lobos, predadores que não dispensam uma carniça. Sabendo disso, a gente até tolera alguns hábitos caninos meio nojentos, como rolar em passarinho morto, fuçar lixo e beber água do vaso sanitário. Mas existe um comportamento em particular que deixa qualquer tutor de cabelos em pé. Estou falando da coprofagia, termo chique para o nada chique ato de comer cocô. Eca!

É claro que tudo é uma questão de contexto. Quando as mamães caninas cuidam dos seus bebês, elas consomem intencionalmente as fezes da cria para o cheiro não atrair predadores e para manter o ninho limpinho. Nessa situação específica, a coprofagia é esperada e desejável.

Também existem casos de coprofagia transitória. Filhotes, por exemplo, são curiosos e exploram o mundo com a boca. Todos os meus cães tiveram uma fase na infância de abocanhar terra, gravetos, reboco de parede, insetos e, sim, fezes. Caprichamos em brinquedos, passamos a recolher os cocôs imediatamente e eles eventualmente amadureceram, deixando o hábito pra trás – ufa!

Em quaisquer outras circunstâncias, entretanto, é importante investigar o que pode estar acontecendo.

“Eu comi cocô”.
dogbreedsinfo.eu

São muitos os fatores que levam um cão a consumir fezes, embora em uma parte dos casos os motivos não sejam lá muito claros. Nesse artigo abordarei as causas mais comuns da coprofagia e o que fazer pra solucioná-la – ou pelo menos minimizá-la.

Verifique se seu cão está com vermes

A presença de vermes no intestino pode fazer um cachorro ingerir fezes para recuperar os nutrientes consumidos pelos parasitos. Realize o exame coproparasitológico com pelo menos três amostras de fezes do cão, de dias consecutivos ou alternados. Um médico-veterinário precisa fornecer o pedido. É uma maneira de descobrir se o peludo apresenta verminose e, em caso positivo, identificar a espécie do parasito – informação importante para orientar o tratamento.

Salvo quando a verminose é evidente, ou seja, quando você vê os bichinhos ali nas fezes, prefiro fazer primeiro os exames a vermifugar logo de cara. Afinal, vermífugo é medicação e não faz bem tomar remédio sem necessidade. O ideal é fazer o exame de fezes pelo menos duas vezes por ano, até porque cães que comem cocô são mais propensos a se reinfestarem com vermes.

Vale acrescentar que já existem no nosso mercado produtos naturais e atóxicos com bom efeito vermicida, como os homeopáticos Fator Vermes Pet e Diproto Zoo, da empresa Arenales. Administre conforme a orientação do fabricante.

Afinal, o que ele vê no cocô??

Um cachorro que consome fezes pode estar buscando nelas certos elementos:

  • Bactérias intestinais benéficas à saúde
  • Enzimas pancreáticas
  • Fibras
  • Microelementos (nutrientes)
  • Calorias

As fezes são o produto final da digestão, o resíduo que o corpo descarta depois de absorver tudo o que consegue dos alimentos ingeridos. A questão é que, dependendo da capacidade digestiva do cão e da qualidade da comida ingerida, o resultado pode ser um cocô, digamos, mais atraente ao paladar.

Se a capacidade digestiva do peludo não estiver legal por qualquer motivo, pedaços de alimentos ou um grande volume de nutrientes sairão intactos nas fezes. O mesmo acontece quando o pet ingere uma dieta de baixa qualidade, que gera muito resíduo. A digestão bem que tenta, mas consegue extrair poucos nutrientes da dieta e aí muita coisa acaba sendo eliminada no cocô.

Assim são produzidas fezes atraentes ao paladar.

Fezes são fonte de fibras, enzimas pancreáticas e bactérias benéficas à saúde. Esses três elementos são fundamentais para uma boa digestão e assimilação dos nutrientes, logo, faz sentido que cães deficientes nesses pontos busquem uma ajudinha comendo cocô.

Por fim, há cães que ingerem fezes simplesmente porque estão com fome. Esses cães encaram o cocô como algo comestível que está à disposição. Peludos que estão de regime, seja pelo apetite aumentado, seja porque estão comendo uma dieta restrita em nutrientes, frequentemente partem para a coprofagia.

Também vejo isso acontecer com alguns cães que comiam ração e passaram a receber dieta natural caseira. A comida caseira estimula o apetite e sua digestão é mais fácil e rápida que a ração, deixando os cães ansiosos por comida. O apetite exacerbado pode fazer seu peludo encarar fezes com outros olhos.

Créditos: http://www.dogingtonpost.com/

dogingtonpost.com

Para descartar essas causas de coprofagia, atente para as seguintes dicas:

Invista em uma dieta de boa qualidade (de preferência, dieta caseira crua com ossos)

Seu cachorro come ração convencional à base de milho e soja? Esse tipo de dieta é rica em ingredientes de menor aproveitamento e costuma gerar fezes repletas de elementos não assimilados, e portanto, atraentes. Para piorar, rações convencionais não costumam conter probióticos (bactérias intestinais benéficas) e enzimas, acentuando a dificuldade digestiva e a busca por esses elementos nas fezes.

Na minha opinião, a dieta mais indicada para dar cabo da coprofagia é a  Alimentação Natural caseira crua com ossos. O sucesso da AN crua com ossos no combate à coprofagia deve-se a quatro diferenciais dessa modalidade de dieta:

  • Elevado teor de enzimas (presentes em alimentos crus)
  • Presença de ossos crus
  • Baixos níveis de carboidratos
  • Presença de bactérias

Essa dieta tem excelente digestibilidade. O cocô fica tão sequinho e com odor tão discreto que o cão passa a considerá-lo absolutamente sem graça. Se você acha que com ração seu cão produz fezes com pouco volume, você não viu nada. 😉

AN crua com ossos pode ser adotada por qualquer cão saudável. Mas, para cachorros com tendência a engasgar e/ou de focinho curto – caso dos Pugs, Shih Tzus e Buldogues – recomendo comprar os ossos já moídos ou moê-los em casa.

Se você leu o guia sobre AN crua com ossos, mas tem receio de aderir, considere as outras dietas caseiras do Cachorro Verde – AN crua sem ossos e AN cozida sem ossos. Não são tão eficientes no combate da coprofagia como a AN crua com ossos, mas ainda geram fezes menos atraentes ao paladar que grande parte das rações.

Rica em enzimas e fibras, AN crua com ossos é uma ótima pedida contra a coprofagia. Créditos: Cachorro Verde

Rica em enzimas e fibras, AN crua com ossos é uma ótima pedida contra a coprofagia.

Suplemente probióticos e prebióticos

Procure complementar a dieta do seu cão com probióticos (bactérias saudáveis) e prebióticos (fibras que nutrem essas bactérias). Existem muitas opções no mercado, como os comprimidos Globion Pet, o pózinho Organew e pastas probióticas como a Biocanis e a Micro-Lac. Administre conforme indicação do fabricante.

Você também pode incluir na dieta alimentos com propriedades prebióticas e probióticas. Bons exemplos de probióticos incluem fermentados como iogurte de boa qualidade ou, melhor ainda, a super bebida probiótica, kefir. Quando ingeridos regularmente esses alimentos funcionais ajudam a renovar e manter em cheque o ecossistema bacteriano intestinal. Sugiro dar 1 colher de chá por dia a cães de porte pequeno, 1 colher de sobremesa por dia aos peludos de porte médio e 1 a 3 colheres de sopa por dia à turma de porte grande e gigante.

Um bom prebiótico – o “adubo” das bactérias boazinhas – você encontra na levedura de cerveja. Compre em lojas de produtos naturais – é baratinha! – e adicione de ½ colherinha de café (para cães miniatura e pequenos) a 1 colher de chá (para cães médios a grandes) desse pó a uma das refeições do peludo, diariamente.

Suplemente enzimas

Enzimas são fundamentais para a boa digestão dos alimentos e assimilação dos nutrientes. O estômago, intestino e, principalmente, o pâncreas as produzem. Mas, em alguns casos, a produção de enzimas por esses órgãos é insuficiente, o que pode levar um cão a consumir fezes na tentativa de obter enzimas. Daí a importância de se tentar a suplementação.

No Brasil infelizmente não encontro ainda produtos veterinários contendo enzimas digestivas, como esse, do Mercola Healthy Pets ou Enteric Support, do Standard Process. Fora daqui, existem produtos que associam prebióticos, probióticos e ervas digestivas, como o GutSense, desenvolvido pelo vet holístico canadense Dr. Peter Dobias. Se tiver a chance de comprar algum desses produtos nos Estados Unidos ou no Canadá, aproveite, e administre conforme a indicação da bula.

Certos alimentos podem fornecer enzimas valiosas, como o mamão papaya e o abacaxi. Ambos são fontes de enzimas proteolíticas (que digerem proteínas). A papaya concentra a papaína e o abacaxi, a bromelina. Só não vale exagerar no pedaço. Mamão em excesso amolece as fezes, ao passo que um pedaço grande de abacaxi pode irritar o estômago.

Também é possível pedir para o vet de sua confiança elaborar uma receita contendo as enzimas bromelina, a papaína e a pancreatina (grupo de enzimas pancreáticas), associadas ao aminoácido pró-digestão L-glutamina e mandar aviar em farmácia de manipulação. Costumo sugerir que essa fórmula seja administrada com cada refeição, diariamente, durante algumas semanas.

Abacaxi contém bromelina, enzima que melhora a digestão. Créditos: http://www.allpetseducationandtraining.com.au/

Abacaxi contém bromelina, enzima que melhora a digestão. allpetseducationandtraining.com.au

Fibras

Fibras são ótimas! “Varrem” suavemente o intestino, livrando-o de toxinas; ajudam a controlar o triglicérides e colesterol, facilitam o trânsito fecal e fermentam levemente no intestino canino, gerando ácidos graxos que alimentam as células intestinais.

Certifique-se de incluir regularmente fibras de boa qualidade na dieta do seu peludo. A nossa turma canina adora mastigar graminhas e folhas de hortelã e de orégano da nossa horta. Sei de cães que curtem erva-doce e melissa. Considere criar uma horta para seu pet e deixá-la inteiramente à disposição dele.

Capriche em legumes e verduras ricos em fibras, como abóbora, vagem e folhas verde-escuras picadinhas ou trituradas no liquidificador, processador ou mixer, como rúcula, couve-manteiga e salsa. Triture um pouco de folhas cruas com vegetais adocicados crus como cenoura e beterraba – os nossos adoram!

Microelementos

Ao consumir fezes, seu cão pode estar buscando minerais e vitaminas que a dieta dele não está fornecendo ou que o organismo dele não consegue extrair dos alimentos. Se você estiver servindo dieta caseira, certifique-se de que a uma dieta esteja balanceada, variada e complementada com gorduras de boa qualidade, alimentos densos em vitaminas e minerais (legumes de cores diferentes, vísceras, levedo de cerveja etc) e uma fonte adequada de cálcio. (No nosso site você encontra guias completos e gratuitos sobre dietas caseiras para cães e gatos.)

Se mesmo assim seu cão demonstra interesse por cocô, procure adicionar à dieta dele por algumas semanas um suplemento poli vitamínico-mineral por algumas semanas, como Food Dog,  Complet Balance, Aminomix Pet ou Nutrifull.

Calorias

Como comentei lá em cima, seu peludo pode estar ávido por fezes simplesmente por estar com fome. Se ele passou a fazer isso depois que você o colocou de regime, veja se você não está restringindo demais a porção de comida. Aumente um pouco – cerca de 10% o total de alimentos fornecidos – e fracione esse total em três ou quatro pequenas refeições oferecidas ao longo do dia.

Preferências gustativas

É muito esquisito falar em “cocô atraente ao paladar”, né? Acontece que alguns tipos de fezes são praticamente irresistíveis aos cães. Estou falando de cocô de coelho – tinindo de vitaminas do complexo B e enzimas – e cocô de gato alimentado com ração, que é cheio de nutrientes não absorvidos. Também há cães com fetiche por cocô de vaca e cavalo – riquíssimos em boas bactérias, fibras e enzimas – e, in-fe-liz-men-te, há cães tarados por fezes humanas, muitas vezes encontradas na rua durante passeios. 🙁

Comer cocô pode ter também fundo comportamental

Muitos cães, principalmente aqueles mantidos confinados, ingerem fezes por estarem estressados e ansiosos. Alguns estudiosos do comportamento canino acreditam que punir um cão por fazer cocô no lugar errado pode acabar fazendo com que ele pense que o ato de fazer cocô, em si, é errado. Para esconder as evidências do “crime” e evitar o castigo, ele some com as fezes do jeito que consegue: comendo tudo.

Então, nada de esfregar o focinho do peludo no cocô, gritar com ele ou agredi-lo com o jornal. Na dúvida, consulte um educador canino bem recomendado que trabalhe com reforço positivo – é a maneira mais humana e respeitosa de ensiná-lo a fazer as necessidades no lugar certo.

Cães que quando filhotes passaram fome, foram desmamados cedo demais ou ficaram presos em espaços apertados sem nada para fazer são propensos a desenvolver hábitos de coprofagia geralmente dificílimos de extinguir.

Muitas vezes um cão que come cocô apresenta o comportamento a outro. Nesses casos, a coprofagia é um comportamento adquirido. Um cachorro mais velho acaba iniciando o mais novo nessa “boquinha”.

Cães mais velhos que comem cocô podem ensinar um cão mais novo a reproduzir o hábito. Créditos: http://static.pexels.com/

Cães mais velhos que comem cocô podem ensinar um cão mais novo a reproduzir o hábito.

Mudanças de manejo que inibem a coprofagia

Recolha as fezes imediatamente

A melhor maneira de evitar que o cão consuma fezes ainda é o clássico “chegue ao cocô antes dele”. É bem verdade que apenas remover as fezes não modifica o comportamento do cão, mas para muitos casos complicados, é o que parece funcionar melhor. Sem fazer alarde, recolha o cocô imediatamente após o pet tê-lo feito. Você provavelmente não estará presente para recolher todos os cocôs sempre, mas com prática e disciplina, uma grande parcela das fezes deixará de ser ingerida.

Cão cansado = cão menos interessado por fezes

Cães entediados são mais ansiosos e propensos a comer cocô. Procure passear com seu amigão diariamente, vigorosamente. O ideal seria um passeio diário de pelo menos 20 a 30 minutos, em ritmo acelerado, mas sempre respeitando os limites do seu peludo. Atividade física regular fornece estímulo físico e mental.

Em casa, proporcione brinquedos de tipos variados e estimule-o a interagir com eles. Use a criatividade para rechear brinquedos ocos com petiscos saudáveis (veja aqui algumas ótimas receitas). Varie os brinquedos de tempos em tempos, pra ele não perder o interesse.

E os produtos anti-coprofagia no mercado, funcionam?

Uma variedade de fórmulas à venda nos pet shop promete acabar com a coprofagia. Alguns desses produtos são polvilhados sobre o cocô, outros precisam ser ingeridos pelos cães, resultando em fezes com gosto ruim. Pelo feedback de inúmeros tutores de cães coprófagos, as fórmulas não parecem funcionar em grande parte dos casos ou só funcionam enquanto o produto é administrado. Além disso, muitos anticoprofágicos contêm glutamato monossódico, um realçador de sabor pra lá de controverso que pode afetar a saúde neurológica do pet. Alguns clientes e leitores, contudo, vêm relatando bons resultados com o uso de florais anti-coprofagia (como esse). O floral não faz mal nenhum e atua no âmbito emocional do cão. Utilize conforme orientação do fabricante durante 30 dias e veja se ajuda.

Resumindo os pontos principais:

  • Certifique-se de que seu peludo não está com vermes
  • Solicite ao vet de sua confiança um check-up geral
  • Considere oferecer Alimentação Natural caseira, de preferência, a modalidade crua com ossos
  • Suplemente a dieta com enzimas, fibras, polivitamínico, prebióticos e probióticos
  • Combine com todo mundo em casa para recolher cada cocô imediatamente
  • Proporcione atividade física regular e variedade de brinquedos adequados
coro

Corah dá dica: cachorro cansado apronta menos!

 

Comunicado do site Cachorro Verde

As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.

Obrigada por acompanhar os canais do Cachorro Verde!