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Em fevereiro de 2011 nossa empresa de fotografia profissional passou a oferecer um novo serviço: retratos caprichados de cães e gatos disponíveis para adoção – livre de custos. Funcionava assim: todo mês clicávamos aproximadamente 10 peludos disponíveis para adoção que estivessem sendo abrigados temporariamente por ONGs e/ou protetores. A iniciativa, bastante popular nos Estados Unidos, tinha o objetivo de retratar esses pets como supermodelos, de forma bastante estética e simpática, na esperança de que uma foto bonita apelasse a um maior número de possíveis adotantes.

O interessante é que alguma coisa dentro da gente começou a mudar com essas sessões, sem que nos déssemos conta disso. Conhecemos pessoas de um desprendimento sem tamanho em relação a esses animais. Comprometidas ao máximo com uma tarefa difícil e muitas vezes dolorosa: a de recolher e disponibilizar para adoção dezenas (ou até centenas) de cães e gatos abandonados ou nascidos nas ruas, freqüentes vítimas de abusos e negligência. Seguindo uma surpreendente conduta ética padronizada, essas pessoas resgatam, alimentam, cuidam e castram esses animais. Doações em dinheiro, serviços veterinários e mantimentos sustentam uma parte da iniciativa, mas muitas vezes os Protetores cobrem essas despesas sozinhos.

Além do admirável aspecto humanitário de proporcionar uma segunda chance a esses animais, os Protetores lutam para educar a população sobre posse responsável e castração, e de quebra reduzem o número de animais errantes, possivelmente transmissores de zoonoses. Se pararmos pra pensar, é mais do que faz a nossa Prefeitura e o nosso Governo. Foi quando nos ocorreu: os Protetores – e nesse artigo me refiro exclusivamente aos indivíduos idôneos – lamentavelmente não contam com o reconhecimento e respeito que merecem em nossa sociedade.

Pelo contrário. Com suas campanhas contra a compra de pets e em favor da castração, eles são tidos por muita gente como chatos, radicais e defensores de uma causa perdida, já que muitas pessoas nem cogitam a adoção de vira-latas e seguirão reproduzindo seus mascotes sem considerarem a alarmante superpopulação de animais.

Agora vem a parte difícil. Eu também pensava assim. Eu também achava que essa questão toda do “não compre, adote!”, era puro radicalismo, e que não era pra mim, já que me considerava uma pessoa esclarecida e razoavelmente responsável. Hoje percebo que por muito tempo evitei sair da minha zona de conforto. Sempre preferi cães de raça, e algumas vezes fiz a bobagem de optar por raças que claramente não se adequariam à minha rotina. Era cinófila de carteirinha. Freqüentei exposições caninas, acasalei algumas vezes um de meus cães machos… Mas achava que pelo simples fato de procurar seguir certos critérios nessas práticas, de cuidar bem dos meus pets e nunca ter abandonado um bicho na rua, já estava fazendo a minha parte. Nunca parei para pensar de verdade na questão da superpopulação de cães e gatos e no trabalho dos Protetores. Pensava que era meu direito preferir e ter somente cães de raça, reproduzir meus pets etc…

Concepções que mudaram quando conheci o outro lado. O lado dos Protetores. Alguns deles responsáveis por 5 animais, outros por 20 ou 200. Todos fazendo o possível para recuperar os bichos, às vezes às custas de muito adestramento e socialização, e entregá-los aos futuros guardiões da melhor forma que podem – no mínimo, castrados e vacinados. Depois de parar alguns instantes para me colocar no lugar desse pessoal: recolhendo animais sumariamente descartados e/ou maltratados, inclusive de madrugada; se virando para providenciar continuamente lares temporários, comida e medicamentos para eles, lutando para educar sobre castração, posse responsável e adoção de animais adultos e sem raça, e enfrentando o preconceito da sociedade e até da própria família – que nem sempre apóia os esforços dessas pessoas – , sem contar os fins de semana dedicados a mutirões de castração, adoção etc – passei a respeitar sem reservas o trabalho dos caras.

Foi aí que finalmente compreendi o sentido por trás de campanhas como as “Não compre, adote!” e “Castre seu pet!”. Passei a enxergar a importância das feiras de adoção de animais castrados e saudáveis – desde que com direito a formulários e possibilidade de devolução do animal em caso de problemas. Violência não resolve nada – e continuo condenando críticas agressivas a criadores de cães idôneos, aqueles raros indivíduos que cuidam bem de seu plantel, tiram poucas ninhadas, acasalam apenas cães saudáveis e orientam sobre posse responsável e castração. Mas, tendo também sido lesada por criadores sem escrúpulos, de certa forma entendo que alguns Protetores tenham suas reservas em relação a criadores com esse perfil e cachorreiros em geral.

Afinal, enquanto tem gente fazendo fila para pagar caro por um cão de raça lindíssimo e às vezes nada saudável ou pouco adequado ao estilo de vida dessas pessoas, existem cães maravilhosos, companheiros, de todos os portes, tipos de pelagem, temperamentos e misturas que são preteridos por não terem raça pura ou por serem adultos ou idosos. Não à toa alguns Protetores já nos confessaram, abatidos, “parece que estamos enxugando gelo”. Nosso baixo interesse por adoção de SRD’s parece ser uma barreira cultural. Ainda somos muito apegados a raças como símbolo de status e é possível que não valorizemos o que para nós não tem custo, ou que tem custo baixo.

Na Inglaterra, Estados Unidos e Canadá a adoção nos chamados shelters ou rescues, em muitos casos figura como a primeira opção no momento da aquisição de um pet. Diferentemente do brasileiro, que praticamente só adota quando um cão ou gato necessitado cruza o seu caminho, aparecendo embaixo do carro ou surgindo doente no portão, lá fora as pessoas realmente se preparam para adotar. Comportam-se como que diante da compra de um cão de raça, visitando com calma alguns abrigos e comunicando os Protetores sobre o tipo de animal que buscam e detalhes de sua rotina e espaço.

Por todos esses motivos – desilusão com os rumos atuais da Cinofilia, profunda empatia com o lado cidadão da adoção e com o belíssimo trabalho dos Protetores e pelo fato de existirem tantos cães e gatos incríveis, prontinhos para serem levados para casa – revemos nossos conceitos e acabamos nos apaixonando por uma cadelinha que fotografamos em uma sessão para o projeto Lindos e Adotáveis: a adorável Polly.

Polly foi resgatada por Protetoras formidáveis, juntamente com outros cães, como o Schnauzer Rodolfo , em uma casa repleta de cães doentes e famintos. Praticamente não tinha pelos no corpo, de tão acometida pela sarna demodécica (a tal “sarna negra”). Estava muito debilitada e ainda assim encontrava forças para abanar o rabinho para as pessoas. Foi batizada de Pollyana, uma provável referência ao seu estado de espírito otimista. E assim, ao longo de meses, Polly recebeu tratamento veterinário, ração de boa qualidade, se recuperou da caquexia e de um quadro de anemia. Uma vez restabelecida, foi castrada e depois vacinada. Apesar de ter porte pequeno e temperamento carinhoso e brincalhão, a pelagem inteira preta e a estampada vira-latice não apelavam às pessoas, e ela passou mais de um ano disponível para adoção até vir morar com a gente.

Em abril desse ano, Polly nos foi entregue em excelente estado: com toda a papelada da castração, vermifugação, exames de sangue e vacinação, com coleira Scalibor e de banho tomado. Aqui, a comparação é inevitável e pertinente: tenho cães de raça pelos quais paguei e que não foram entregues em bom estado de saúde.

Nossa Polly está conosco há pouco mais de um mês e ninguém aqui consegue imaginar a casa sem ela! Ela vive no nosso colo, é a melhor amiga da Corah (Golden destrambelhada) e companheira de sonecas da preguiçosa salsichinha Maya. As visitas ficam encantadas com seu jeitinho meigo, vira e mexe comentam que ela é sua nova favorita e ameaçam levá-la para casa. Ela caiu como uma luva em relação ao nosso estilo de vida, rotina e ao que buscávamos em um novo amiguinho canino. Se adaptou maravilhosamente bem à Alimentação Natural e a todos os cães e gatos da casa.

O que mais poderíamos pedir? Só temos a agradecer às Protetoras Adriana e Vanessa, da equipe CãoMinhandO, por terem recolhido nossa inseparável amiguinha e tratado tão bem dela, permitindo assim, que ela viesse enriquecer nossas vidas!

Ajude a transformar a consciência coletiva: divulgue a adoção

    • A adoção de cães SRD, de adultos e idosos, ainda está envolta em muitos preconceitos infundados. Ajude a desmistificar essa iniciativa, divulgando informações e circulando fotos de animais para adoção oriundos de abrigos idôneos.
    • Cogite com carinho a adoção consciente de um pet. Ao fazê-lo, você dá uma segunda chance a um peludo, descola um amigão e se torna um exemplo de cidadania para sua comunidade, familiares e amigos.
  • Se algum amigo ou parente seu comentar que está pensando em comprar um cão de raça, converse com ele sobre adoção. Mostre fotos de pets disponíveis e convide-o para visitar um abrigo de confiança antes de se decidir pela compra de um animal. Se ainda assim ele fizer questão de um cão de raça, procure um criador idôneo, que produza poucas ninhadas ao ano, que realmente prioriza a saúde e o bom temperamento dos animais e que cuida bem de seu plantel. O mínimo que podemos fazer é não apoiar criadores socialmente irresponsáveis – e castrar nossos animais.
    • Se você já tem um cão de sua raça favorita, considere a adoção como forma de aquisição de seu próximo peludo.
    • Se você tem filhos, a adoção consciente pode ser uma oportunidade muito especial para transmitir conceitos valiosos de cidadania, como compaixão por todos os indivíduos, independentemente de sua idade, aparência, raça e necessidades especiais.
    • Não acasale seu cão ou gato, por mais especial que ele seja e por mais que você queira ficar com um filhote dele. Não faz sentido colocarmos mais vidas nesse mundo, sem critério, quando há tantos animais à espera de um lar. Se você tirar um dia ou dois para procurar, certamente se encantará por um das centenas de animais disponíveis para adoção em sua cidade. Comunique o tipo de bicho que você procura (ex: cão, macho, porte médio, que goste de crianças) a um Protetor e explique a ele como é a sua casa e a sua rotina. Ele consultará outros Protetores caso não disponha de um animal que se encaixe no seu perfil, e você logo encontrará um cão com as características ideais para você.
  • Não descarte a adoção por conta da idade do animal. Adotar um cão ou gato adulto tem uma porção de vantagens. Adotando um animal adulto você fica livre de ter surpresas com relação ao tamanho final do animal e ao temperamento, e também pode se preocupar menos com as travessuras da infância. Se você tiver um pouquinho de paciência vai conseguir ensinar as regras da casa tão bem (ou até melhor) do que ensinaria a um filhote, porque cães adultos são, em geral, mais calmos e mais concentrados. Mas, se mesmo assim você ainda fizer questão de ter um filhote, não deixe de entrar em contato com um Protetor de confiança. Os Protetores resgatam cães e gatos de todas as idades, já que, infelizmente, é comum ninhadas inteiras nascerem em situação de abandono.

Polly, na ocasião em que foi encontrada

Polly, no dia em que chegou aqui

Bom apetite e uma lambida do Cachorro Verde!