fbpx

Há alguns dias publiquei um post no Instagram e na página do Facebook do Cachorro Verde anunciando que escreveria um artigo sobre frutas na dieta dos nossos pets e pedindo para leitores, clientes e amigas enviarem suas dúvidas sobre o tema. Recebi mais de cem perguntas e delas extraí alguns subtemas para abordar aqui e neste vídeo complementar para o nosso canal no YouTube. Antes de mais nada, obrigada pela participação de vocês! E agora vamos às dúvidas sobre esses alimentos que dão um show de cor e sabor!


Qual é a importância de oferecer frutas aos pets?

Na natureza os canídeos consomem frutas, como as amoras que eles encontram em arbustos. O consumo de um pouco de frutas é biologicamente adequado a eles. Embora os felinos selvagens tipicamente não comam frutas, há bichanos domésticos que as apreciam.

Frutas são fonte de fibras, vitaminas e minerais, antioxidantes, fitoquímicos e enzimas digestivas. O avocado (no vídeo abordo uma questão só sobre ele), por exemplo, concentra incríveis 13g de fibras por fruta. Fibras desaceleram a absorção da frutose (açúcar natural das frutas), aumentam a sensação de saciedade, regulam o trânsito intestinal, são fermentadas pelas boas bactérias do intestino, gerando alimento para elas mesmas e para as células intestinais e ajudam a controlar as taxas de triglicérides e colesterol. Goiaba, framboesa, romã, caqui e kiwi também são ricos em fibras.

Antioxidantes e fitoquímicos reduzem o risco de câncer, a taxa de envelhecimento, fortalecem a imunidade e protegem órgãos suscetíveis aos danos causados por oxidação (oriunda de poluição, agrotóxicos, medicamentos, aplicação de anti-pulgas convencionais etc), como os olhos e o cérebro, afastando o risco de catarata e disfunção cognitiva (“Alzheimer canino”). São abundantes em frutas como amoras, mirtilos (blueberries), romã, casca de jabuticaba (sim, é a casca que concentra uma riqueza de polifenois), cítricas e outras. Enzimas digestivas, presentes somente em alimentos in natura (não cozidos) dão uma força com a digestão e têm efeito antiinflamatório.

Existem frutas proibidas ou contraindicadas a cães e gatos?

Sim, uvas (respondo uma questão inteira sobre uvas no vídeo), carambolas e açaí. O motivo para evitar a carambola é a presença da caramboxina, uma toxina que pode causar alterações neurológicas e condenar o rim de quem já apresenta alguma disfunção nesse órgão. A carambola também é fonte de bastante ácido oxálico, o que pode levar à formação de cristais e cálculos de oxalato de cálcio em indivíduos predispostos a isso. Melhor evitar.

Já o açaí está riscado da lista de recomendações por concentrar a mesma toxina prejudicial ao coração e ao cérebro dos nossos pets encontrada no chocolate, o alcaloide teobromina.

Há frutas que embora estejam liberadas podem não ser bem toleradas por todos os peludos. Não é incomum eu ouvir de clientes que o consumo de melão foi indigesto para seus cães, provocando vômito. Ou que a ingestão de polpa de coco (a molinha do côco verde ou a durinha e grossa do côco marrom) causou uma diarreia daquelas. A oferta excessiva de mamão também pode amolecer as fezes. Claro, como com tudo na vida o exagero na oferta de frutas é o maior causador de problemas.

Por esse motivo é importante sempre testar a tolerância do pet oferecendo apenas um pouquinho (por exemplo, o equivalente a um ou dois cubinhos) de uma fruta que ele nunca comeu. Experimente também oferecer a fruta longe das refeições. O melão, por exemplo é digerido muito rapidamente, mas se estiver acompanhado de outros alimentos pode ficar mais tempo do que deveria no estômago e fermentar, gerando gases e desconforto. E se perceber que seu animal não fica bem com a fruta “x” ou “y” simplesmente pare de insistir.

E as frutas cítricas? Tem gente que diz que pode, outros dizem que não.

Eu nunca entendi por que motivo tanta gente divulga banners nas redes sociais contraindicando frutas cítricas a pets. Ora, se crianças pequenas podem comer abacaxi e laranja, por que um cachorro ou gato, animais carnívoros, de estômago forte o suficiente para digerir ossos e carne crua, não daria conta de um reles kiwi?

“A culpa é do pH ácido dessas frutas”, dizem. Ah é? Então, veja só. Enquanto o suco gástrico do estômago humano tem um pH situado entre 2 e 4, o pH do suco gástrico canino e felino fica entre 1 e 2. Ou seja, o suco gástrico deles é mais ácido que o do nosso estômago. E o pH das frutas? O suposto “rei da acidez”, o abacaxi, possui um pH entre 3,2 e 4. Mais elevado (menos ácido) que o do suco gástrico dos cães. A laranja fica entre 3,7 a 4,3. A tangerina, entre 3,3 a 4,5. O pêssego, de 3,3 a 4 – mesmo valor da maçã, que todo mundo oferece ao seu peludo. Consulte aqui o pH de diversas frutas.

Então, para enterrar de uma vez por todas esse mito sem fundamento: sim, cães e gatos saudáveis podem comer frutas cítricas. Mas não exagere na quantidade (conselho que vale para todas as frutas) e tenha bom senso. Não ofereça cítricos a pets de estômago sensível ou que estão vomitando.

Existem condições de saúde que contraindicam a oferta de certas frutas?

Sim, mas principalmente se você oferecer essas frutas com muita frequência e em quantidade maior que o recomendado. São pouquíssimos os alimentos naturais que podem prejudicar seriamente um pet se oferecidos em diminuta quantidade e ocasionalmente.

A oferta de frutas em geral pode ser proibida para pets diabéticos e adeptos de dietas especificamente elaboradas para ajudar no combate ao câncer, como a cetogênica e as oncológicas. Isso, porque carboidratos simples causam picos de glicemia e são o combustível preferido das células tumorais para crescer e se espalhar.

Pets com problemas pancreáticos ou hepáticos sérios devem evitar frutas ricas em gorduras, como polpa de coco, abacate e avocado. Essas mesmas frutas, assim como o mamão, podem agravar diarreias em pets com enterite ou colite.

Acredita-se que o morango pode agravar quadros alérgicos por meio de um fenômeno chamado degranulação de mastócitos, o que aumenta a circulação de histaminas, proteínas desencadeadoras de coceiras, vermelhidão e edema.

Se você tem um cão ou gato com histórico de formar grandes quantidade de cristais e cálculos urinários de oxalato de cálcio não ofereça frutas ricas em ácido oxálico (o elemento precursor deste tipo específico de cristal e cálculo), como figo, groselha (os frutinhos), damasco, laranja, casca de limão, caqui, framboesa, kiwi, tomate e, claro, carambola. Neste endereço você encontra uma boa lista (em inglês) sobre teor de oxalato em dezenas de alimentos.

Banana e manga, duas favoritas dos cães, concentram bastante açúcar (frutose) e devem ser evitadas por pets que precisam perder peso e portadores de disfunções que aumentam taxas de colesterol, triglicérides e glicose no sangue como é o caso do hiperadrenocorticismo e hipotiroidismo.

Se seu peludo estiver vomitando não é momento de oferecer frutas cítricas ou potencialmente indigestas, como melão. Pets com estômago sensível podem se dar melhor com pêra e pequenos pedaços de banana.

É muito importante dizer que sair restringindo alimentos da dieta do seu pet sem saber se ele de fato possui uma restrição alimentar não previne nada e ainda pode privá-lo de nutrientes bacanas. Consulte a médica-veterinária do seu cão ou gato portador de algum problema de saúde sobre possíveis contraindicações da fruta que você gostaria de incluir regularmente na dieta dele.

Cães a gente sabe que adoram frutas. Mas e os gatos?

Gatos também podem apreciar frutas, apesar de praticamente não as consumirem na natureza e curiosamente não possuírem papilas gustativas para identificação de sabores adocicados. Então não deve ser o sabor doce das frutas o que atrai os felinos que gostam delas. Talvez seja a acidez? A textura? O cheiro?

Seja como for, as mesmas recomendações feitas acima se aplicam aos nossos amiguinhos bigodudos. Só não exagere na quantidade. Gatos são carnívoros estritos e são metabolicamente menos hábeis em lidar com carboidratos que os cães. Experimente oferecer um pouquinho de frutas diversas e veja quais ele prefere. Leitores me contam que seus gatos gostam de mamão, tangerina, manga e abacate. E o seu?

Quanto posso oferecer de frutas por dia ao meu pet?

Essa é possivelmente a pergunta mais importante de todas. Sabe aquela história de “a diferença entre remédio e veneno é a dose”? Pois se aplica perfeitamente aqui. Frutas são alimentos que enriquecem a dieta com fibras, antioxidantes, vitaminas e minerais. Para melhorar são docinhas, fazendo naturalmente a alegria de muitos cães (e de alguns gatos). Mas também podem concentrar carboidrato generosamente, em especial, a frutose, e por isso a gente deve ter cuidado para não exagerar nas porções.

A oferta de 5% de frutas como um extra à dieta do seu cão ou gato, diariamente, já estaria de bom tamanho para conferir benefícios e vantagens. Para minha cadela Polly, que recebe 360g de alimento por dia, ofereço cerca de 20g de frutas como petiscos. Essa quantidade corresponde a 5% extra do total de comida que ela recebe por dia.

Vario entre amoras, mirtilo, avocado, cítricas, maçã e banana. Sim, a porção é pequena mesmo. Eu poderia dobrar essa quantidade, mas aí não poderia oferecer outro pequeno petisco bacana, como um pouquinho de iogurte/kefir/cottage/ricota ou ovinhos de codorna. E prefiro a variação.

Quer ver como a oferta excessiva de frutas pode desequilibrar seriamente a dieta de um cão? Então acompanhe esse exemplo. Totó é um Pug que pesa 9kg e recebe 360g de AN por dia. A AN dele, composta por 30% de carnes (exemplo: músculo bovino), 5% de vísceras (exemplo: fígado bovino), 35% de caboidratos (exemplo: batata-doce) e 30% de vegetais (exemplo: chuchu, vagem e abobrinha) fornece cerca de 430kcal e apresenta 40% de proteína, 28% de carboidrato e 32% de gordura. Se eu passar a oferecer ao Totó diariamente uma unidade pequena de banana-prata as calorias aumentam em 90kcal (20% a mais do que a comida fornece!) e a dieta passa a fornecer 33% de proteína, 41% de carboidrato e 26% de gordura. 

Então frutas são ótimas, mas maneirar é preciso. Tomando o cuidado de não oferecer mais do que 10% extra da dieta como frutas você não precisará se preocupar.

Meu pet não dá a mínima para frutas. Há maneiras de fazê-lo tomar gosto?

A oferta de frutas é inteiramente opcional. Se seu cão ou gato não gosta de nenhuma fruta, mas come sem problemas vegetais variados (verduras, legumes, hortaliças) nas refeições, não há motivos para preocupação. Mas você pode tentar substituir 5% da dieta por frutas valiosas e com menor teor de açúcar, como amoras, mirtilo e cítricas. Usando o exemplo da dieta do Totó da questão anterior, poderíamos trocar 18g dos vegetais por 18g dessas frutas cruas. Triture com os outros vegetais da dieta, misture bem a carnes e vísceras, e veja se ele curte. Não indico substituir mais que no máximo 1/3 dos vegetais da dieta por frutas, para não deixar tudo açucarado demais.

Experimente também bater um pouco de frutas cruas com kefir de leite ou iogurte natural integral ou cottage ou ricota. Não recomendo adoçar. Nem com mel ou açúcares como o mascavo, agave ou de coco. Se você precisa adicionar mais açúcar a um alimento já rico em açúcar para seu peludo aceitá-lo, não vale a pena oferecer frutas. De verdade. Também não recomendo cozinhar as frutas para torná-las mais palatáveis. Aumenta a digestibiidade da fruta, tornando o açúcar mais disponível, além de destruir as valiosas enzimas e algumas vitaminas. 

Frequentemente percebo também que pets sedentários e que estão acima do peso tendem a ser muito mais seletivos com vegetais, incluindo frutas.

De que maneira posso servir as frutas?

Preferencialmente cruas e em pedaços. Mas também pode misturar a kefir de leite, iogurte, cottage ou ricota. E também pode triturar com água ou iogurte/kefir de leite – sem adoçar – e fazer gelinhos para os dias quentes.

Uma regrinha fácil de lembrar é que todas as cascas que a gente consome os cães e gatos podem comer também. Alguns cães gostam e toleram bem até a casca da banana, que é riquíssima em fibras e minerais. Outros podem ficar com as fezes amolecidas e/ou com muco. Não descarte a casca da jabuticaba – triture algumas com iogurte natural e sirva como lanche, gelado ou in natura. É riquíssima em antioxidantes.

Remova caroços como o do pêssego, avocado, abacate, ameixa, manga – o risco de causar obstrução gastrintestinal é real. Não precisa descartar as sementinhas do kiwi, morango, romã, goiaba, melancia, mamão, melão etc, elas saem no cocô e tudo bem. Mas remova as sementes da maçã e da pêra, que concentram diminutas quantidades de ácido cianídrico, que encontra o pH ácido do estômago e se transforma em uma toxina, cianeto.

Você sabia que a “pelinha” branca da laranja concentra antioxidantes? Não a descarte. Outro nutriente precioso, a citrulina, a gente encontra na parte branca da melancia, perto da base dela. A citrulina relaxa os vasos sanguíneos, facilitando a circulação do sangue e ajudando a baixar a pressão arterial.

Oferecer suco de fruta não é uma boa ideia. Frutas não devem ser bebidas e sim consumidas juntamente com suas fibras, que barram a liberação muito rápida e intensa de glicose (açúcar) no sangue. O cão ou gato que ingere suco de fruta, mesmo em se tratando de suco 100% natural, caseiro e sem adição de açúcar, tem muito maior chance de desenvolver hiperglicemia e esteatose hepática (gordura em volta do fígado). Pelos mesmos motivos indico evitar frutas cozidas, frutas em compota e geleias.

Frutas desidratadas, como cranberry, goji berry, damasco e tâmara (sempre sem caroço) pedem um pouco de atenção e mão leve na porção. Confira a composição no rótulo. Não ofereça frutas desidratadas que contêm açúcar adicionado e/ou conservantes. Ofereça bem pouquinho, lembrando que elas são menores por terem sido desidratadas, mas concentram o mesmo teor de frutose do alimento in natura. Uva-passa é melhor evitar (por motivos que comento no vídeo).

É importante que as frutas sejam orgânicas?

Importante, é. Mas por conta de preços e dificuldades logísticas, muitas vezes a compra de orgânicos não é uma realidade. Definitivamente não é frescura preferir alimentos orgânicos. Vivemos no Brasil, país em que a utilização de agrotóxicos e aditivos na agricultura é mal regulada e abusiva.

O excelente atlas “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia”, escrito por Larissa Mies Bombardi, do Laboratório de Geografia Agrária da USP, que pode ser baixado em troca de uma doação aqui revela as quantidades inacreditavelmente absurdas de agrotóxicos praticadas no nosso país. Não faltam trabalhos científicos (pesquise “GMO” e “glyphosate” em plataformas como o PubMed) apontando risco de problemas à saúde relacionados ao consumo de alimentos contendo essas substâncias.

No site feirasorganicas.org.br, criado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), é possível descobrir onde acontece a feira orgânica mais próxima de você. E pela Internet também é possível contratar serviços de assinatura de cestas de produtos orgânicos que entregam em casa, diretamente do produtor – dê um Google em “delivery orgânicos + a sua cidade”. É uma mão na roda!

E, claro, se não puder comprar orgânicos nem mesmo para você e para sua família, não é por isso que você vai deixar de oferecer frutas ao seu pet. Nesse caso, prefira frutas da estação, pois requerem menos incentivos químicos. E remova cascas finas antes de servir a fruta.

Ufa!
Não deixe de assistir ao vídeo complementar deste guia, no qual falo sobre abacate, avocado, uvas, oferta de abacaxi e mamão como digestivos naturais, armazenamento de amoras em freezer e as cinco melhores frutas para nossos peludos.

Referências:

 

Comunicado do site Cachorro Verde

As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança. Obrigada por acompanhar os canais do Cachorro Verde!