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Muitos alimentos funcionais que a gente consome podem ser oferecidos também aos nossos cães e gatos com o mesmos ótimos resultados. Nesta sequência de posts vou abordar três verdinhos incríveis: a spirulina, a clorella e a moringa.

Bora conhecer suas vantagens, como inclui-los na dieta do peludo e se existem contraindicações? Nesta terceira e última parte da série vou abordar a moringa. A primeira parte, sobre a spirulina, você pode conferir aqui. E o capítulo seguinte, sobre a clorella, está aqui.

Moringa: pau pra toda obra!

Você já ouviu falar em PANC? É o acrônimo para Plantas Alimentícias Não Convencionais. São vegetais super resistentes que até ontem eram considerados reles matos e ervas-daninhas. Mas mentes curiosas (e preocupadas com sustentabilidade) descobriram que elas são realeza: concentram uma infinidade absurda de nutrientes e elementos benéficos à saúde.

As PANC andam tão na moda que já existe até livro dedicado às propriedades medicinais e  usos culinários de centenas delas, restaurantes que incrementam seus pratos com PANC e existem até eventos urbanos que ensinam a reconhecer as PANC ao seu redor.

Pode ser até que seu cão ou gato já tenha dado uma bocada intencionalmente em alguma PANC no quintal ou durante um passeio a uma praça ou parque. Os pets não são nada bobos quando o assunto é zoofarmacognosia – termo engraçado para o instintivo ato de auto-medicação que nossos bichos fazem quando não estão se sentindo bem.

Pois bem, a Moringa oleifera é uma PANC. Uma árvore de crescimento super veloz e nativa da Índia que hoje é encontrada por toda a região dos trópicos. Aqui no Brasil também é conhecida como “lírio branco” e “quiabo-de-quina”. O sistema Ayurvédico de medicina holística, desenvolvido há mais de 3 mil anos, credita à moringa a cura e/ou prevenção de aproximadamente 300 doenças. Países como Senegal e Benim combatem desnutrição infantil com moringa (1).
Bastam seis colheres de sopa de pó de folhas de moringa para atender a exigência diária de ferro de uma mulher gestante (2)!

Comecemos pela abundância de nutrientes desta que é apelidada de “árvore dos milagres”. De acordo com estudos a dose de 10 gramas de folha de moringa em pó fornece cerca de:

  • apenas 20kcal
  • 2.7g de proteína, com 19 aminoácidos (2x mais proteína que o ovo)
  • 230mg de gorduras saudáveis
    (17 ácidos graxos, sendo o mais abundante o ômega-3 ácido alfa-linolênico)
  • 3,8g de carboidratos
  • 1,9g de fibras
  • 300UI de vitamina A
  • 264mcg de vitamina B1 (tiamina)
  • 200mcg de vitamina B2 (riboflavina)
  • 800mcg de vitamina B3 (niacina)
  • 240mcg de vitamina B6 (piridoxina) (4)
  • 54mcg de ácido fólico
  • 17mg de vitamina C (2,5x mais que a laranja)
  • 16,8UI de vitamina E (4x mais que a semente de girassol)
  • 200mg de cálcio (17x mais que o leite)
  • 36,8mg de magnésio (4,5x mais que o espinafre)
  • 20mg de fósforo
  • 200mg de sódio
  • 3.6mg de selênio (18x mais que a castanha do pará)
  • 86mcg de manganês
  • 146mg de potássio (quase 3x mais que o avocado e 4x mais que a banana)
  • 57mcg de cobre
  • 2,8mg de ferro (mais que 5x mais que o fígado bovino)
  • 320mcg de zinco
  • 870mg de enxofre (unhas e pelos agradecem!)

(fontes 1, 3, 4, 5)

São 90 nutrientes em uma só planta. Já deu pra perceber que um pouquinho de moringa pode fazer uma gigantesca diferença na densidade nutricional de qualquer dieta, né? Mas essa verdinha também dá show no quesito propriedades terapêuticas. A Moringa fornece antioxidantes e fitoquímicos que comprovadamente ajudam a reduzir taxas de pressão arterial, modulam inflamação e mantêm níveis saudáveis de colesterol em humanos. Dentre eles (6):

  • ácido elágico, que também está presente na romã e beneficia a pele
  • ácido clorogênico, que ajuda a reduzir as taxas de glicose no sangue
  • glicosinolatos, que são os compostos presentes no brócolis com ação anticâncer
  • quercetina, que possui propriedades antialérgicas
  • canferol, flavonóide similar à cânfora, com efeitos antimicrobianos

Vamos dar uma olhada em alguns estudos científicos que demonstraram o que a moringa pode fazer por todos nós – pets e humanos?

Protege o cérebro de oxidação e reduz perda de memória (7)
Uma neurotoxina chamada cuprizona, conhecida por gerar estresse oxidativo no cérebro e causar declínio de memória e dano ao sistema córtico-hipocampal, foi administrada a dois grupos de ratos. Um grupo recebeu somente a cuprizona e o outro recebeu cuprizona, mas também moringa. E não é que a moringa foi capaz de reverter os déficits neuropatológicos causados pela cuprizona? Tudo graças ao elevado conteúdo de antioxidantes e propriedades neuroprotetoras dessa planta.

Pode prevenir síndrome metabólica (8)
Um grupo de ratos recebeu moringa durante três semanas. Depois disso passou a comer uma dieta rica em gordura e a receber água com adição de açúcar com objetivo de induzir à síndrome metabólica (condição de “pré-diabetes” caracterizada por pressão alta, hiperglicemia e aumento da circunferência abdominal). Em comparação com um segundo grupo de ratos que não recebeu moringa, os ratos do primeiro grupo apresentaram melhoras significativas em relação à tolerância à glicose, níveis mais baixos de triglicérides e menor circunferência abdominal. A conclusão dos cientistas? A administração de moringa pode atenuar a síndrome metabólica.

Ajuda a amenizar manifestações alérgicas (9)
O extrato de moringa foi utilizado em uma cultura de células humanas (estudo in vitro) e em ratinhos com dermatite atópica (estudo in vivo). A moringa melhorou significativamente diversos indicadores de alergia: infiltração por mastócitos (células de defesa associadas aos sintomas da alergia), níveis de anticorpos no sangue, bem como expressão de receptores relacionados ao processo alérgico e de inúmeras citocinas inflamatórias no tecido do ouvido, gânglios linfáticos e células do baço.

Protege o microbioma intestinal e modula inflamação (10)
Em estudo de 2018, ratinhos foram divididos em três grupos. Dois dos três grupos receberam uma dieta rica em gordura, sendo que um deles tomou também um extrato de moringa. O terceiro grupo não tomou extrato de moringa e recebeu uma dieta com níveis normais de gordura. O grupo que comeu a dieta gordurosa teve perda de boas bactérias intestinais, ganhou peso e apresentou aumento de citocinas pró-inflamatórias. E no grupo que recebeu moringa? O peso, as taxas de citocinas pró-inflamatórias e o ecossistema bacteriano foram pouco afetados.

Aumenta (muito) o desempenho atlético e reduz fadiga (11)
A performance atlética de ratinhos recebendo ração enriquecida com moringa foi testada. Os roedores foram colocados para nadar durante 90 minutos e em outra ocasião nadaram com carga na cauda (10% do peso). Parâmetros como taxa de glicose no sangue, bem como de lactato, ureia, triglicérides, glicogênio hepático e muscular, níveis de antioxidantes endógenos e outros parâmetros hematológicos foram mensurados.
A ingestão de moringa aumentou o tempo que os ratinhos conseguiram nadar, a oxigenação do sangue e as reservas de glicose muscular e hepática. Também aumentou a atividade de enzimas antioxidantes e reduziu concentrações sanguíneas de lactato (responsável pela dor, fadiga e contraturas musculares causadas por exercícios físicos), triglicérides e ureia.

Previne alteração renal causada por toxinas (12)
A moringa pode ativar sistemas endógenos (do próprio corpo) para modulação de inflamação e neutralização de substâncias tóxicas. Foi o que demonstrou um experimento de 2018 em ratos. Os animais receberam nanopartículas de dióxido de titânio, que causa estresse oxidativo e inflamação nos rins, mas, por estarem tomando moringa, o dano renal foi inibido.

Tem ação analgésica e antiinflamatória sobre as articulações (13)
Pesquisadores demonstraram que o extrato etanólico de folhas de moringa é um promissor medicamento natural contra dores e contra artrite. Ratos com dor crônica, causada ou não por artrite, responderam positivamente ao tratamento. Foram avaliados pontos nos bichinhos como inchaço nas patinhas, grau de claudicação (“manqueira”), radiografia das articulações e parâmetros hematológicos. Na dose de 250mg/kg de peso o extrato de moringa se provou mais eficiente em controlar a dor que o fármaco endometacina.

Melhora as condições da próstata em hiperplasia prostática benigna (HPB) (14)
Uma condição muito frequente em cães não castrados a partir de 7 anos de idade é a hiperplasia prostática benigna (HPB). Por influência de hormônios, a próstata nesses cães fica aumentada de tamanho e inflama, podendo causar compressão do reto, constipação e alterações urinárias. Um estudo de 2017 testou a eficácia de doses diferentes de extrato etanólico de folhas de moringa no tratamento coadjuvante do HPB em ratos. A planta reduziu significativamente o aumento da próstata (em mais de 20%), os níveis de testosterona no sangue (em mais de 70%) e o antígeno específico de próstata (73%). Com isso impediu a ação inibitória da testosterona sobre potentes antioxidantes produzidos no corpo (superóxido dismutase, catalase e glutationa) e atenuou até mesmo alterações no tecido desta glândula.

Sementes de moringa ajudam a reduzir hipertensão (15)
Cientistas em 2017 demostraram que a administração de sementes de moringa pode reduzir níveis circulantes de elementos relacionados à hipertensão arterial, como nitritos, NF-κB e a proteína C-reativa. Os vasos sanguíneos de ratinhos que receberam moringa se mostraram mais relaxados e menos inflamados, permitindo uma passagem mais fácil do sangue e atenuando a hipertensão.

Protege o fígado e ajuda a baixar níveis de gordura no sangue (16)
Extrato metanólico de moringa foi administrado a ratinhos diabéticos durante 42 dias. Os roedores apresentaram redução das taxas de enzimas hepáticas (fosfatase alcalina, ALT e AST) e índices normais de colesterol (LDL, HDL e VLDL). O tratamento com moringa também aumentou a produção de antioxidantes endógenos e reduziu marcadores de inflamação presentes no sangue, como a interleucina-6 (IL-6) e o Fator de Necrose Tumoral (TNF-α). Até o fígado dos bichinhos tratados com moringa apresentou sinais de degeneração muito mais leves em comparação com esse mesmo órgão nos ratinhos diabéticos que não tomaram moringa.

Pesquisadores vêm verificando o potencial da moringa como tratamento natural coadjuvante em dezenas de condições e doenças (17). Essa PANC se mostrou capaz de reduzir danos causados por radiação (18), diminui níveis de glicose no sangue de ratinhos diabéticos (19), ajuda a proteger o estômago contra medicações que causam úlcera (20), controlar níveis de triglicérides, colesterol e malondeído no sangue (21), reduzir dosagem de medicamentos em cardiopatas (22), possui efeito analgésico (23), modula imunidade celular e humoral (24), ameniza colite ulcerativa quando administrada em altas doses (25), é quelante de arsênico, mercúrio e cádmio (26, 27, 28) e, finalmente, apresentou ação antitumoral contra diversos tipos de câncer em humanos e ratos (29, 30, 31).

Como administrar a moringa e quais são as suas contraindicações

A partir da dosagem preconizada para humanos, a dose sugerida de folha de moringa oleifera em pó para cães e gatos é de:

  • Gatos e cães de porte miniatura (até 5kg): de 125mg a 250mg por dia
  • Cães de porte pequeno (entre 5kg a 10kg): de 250mg a 500mg por dia
  • Cães de porte médio (10kg a 22kg): de 500mg a 1g por dia
  • Cães de porte grande (22kg a 35kg) e gigante (mais de 35kg): de 1g a 2g por dia

Mas introduza bem devagarzinho a moringa. Sem pressa. Essa PANC é densíssima em minerais e possui ação de eliminação de toxinas, o que pode causar reações adversas (passageiras) em peludos mais sensíveis, como diarreia, flatulência (gases) e vômitos.

Comece administrando ¼ a no máximo ½ da dose indicada ao peso do seu pet uma vez por semana, fracionando essa dose em duas refeições. Depois passe a oferecer duas vezes por semana. Depois suba para três vezes por semana. Esteja atento ao limiar de tolerância de seu cão ou gato. Se ele parece não tolerar bem a dose definitiva, mas fica bem com metade disso, respeite. A moringa não precisa ser administrada diariamente. Duas a três doses por semana já podem fazer uma diferença significativa na dieta e na saúde dos peludos.

Por estimular a contração uterina (podendo acarretar aborto) a moringa é contraindicada a gestantes. Sendo rico em proteína a moringa pode ser contraindicada a cães e gatos com doença renal avançada. Se seu pet faz uso de insulina e fármacos para reduzir a pressão é preciso ter um pouco de cuidado, pois a moringa pode potencializar os efeitos desses medicamentos.

O gosto da moringa não é dos melhores. Lembra um matchá discretamente apimentado. Então, misture bem à dieta do seu cão e gato para disfarçar o sabor amargo.

Concluindo com uma boa notícia, o pó de folhas de moringa oleifera não é caro. Você o encontra  à venda em lojas de produtos naturais, tanto físicas quanto online. Se possível, prefira moringa de cultivo orgânico – para que a moringa seja realmente nutritiva e rica em benefícios ela precisa ter crescido em um solo de boa qualidade. Aliás, você pode até plantar a sua própria moringa, é bem fácil, ela não é uma planta muito exigente. Na Internet encontramos diversos tutoriais de cultivo, como esse. Quando tiver folhas da planta in natura você pode adicioná-las à alimentação do seu pet como até 5% da dieta, lá na porção de vegetais. Para isso você pode triturá-las no processador junto com os demais vegetais da refeição, ou refogá-las com um pouquinho de óleo de coco.

Referências:

  1. sciencedirect.com/science/article/pii/S2213453016300362
  2. academicjournals.org/journal/JMPR/article-abstract/5F654D120796
  3. ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4581279/
  4. researchgate.net/publication/236669148_Nutritional_characterization_of_Moringa_Moringa_oleifera_Lam_leaves
  5. miracletrees.org/moringa-doc/nutrient-content-of-moringa-oleifera-leaves.pdf
  6. sciencedirect.com/science/article/pii/S1995764516307143
  7. ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6026826/
  8. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29962304
  9. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27744247
  10. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30159057
  11. ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4745945/
  12. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29728821
  13. ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5884001/
  14. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29248935
  15. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28713487
  16. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28539743
  17. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30087795
  18. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29885347
  19. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29636032
  20. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29527150
  21. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28459609
  22. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28406043
  23. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28073097
  24. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26103628
  25. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25050310
  26. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28571135
  27. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27071754
  28. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25183111
  29. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30241049
  30. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26288313
  31. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23957955

Comunicado do site Cachorro Verde

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