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O Cachorro Verde se orgulha de divulgar uma linha naturalista e holística. Isso significa que nos interessamos pelos animais de estimação como um todo, e não pela soma de suas partes. Por esse motivo dedicamos uma parte do site às terapias alternativas.

Mudar a alimentação do cão ou gato para uma dieta caseira natural é uma medida importantíssima para a vida dele ! Ao oferecer alimentos de verdade, frescos e variados, você garante a ingestão de um universo de nutrientes naturais.

Isso é fantástico para a saúde – e quem já converteu os pets para a alimentação natural pôde ver na prática os benefícios.

Mas outras condutas também podem ajudar seu melhor amigo a viver mais e melhor. São medidas que fazem muito sentido, mas que infelizmente não recebem a divulgação merecida.

Nesse contexto merece destaque a Homeopatia – uma de nossas maiores paixões. Com base em uma abordagem singular e fascinante, a Homeopatia não tem contra-indicações e pode ser adotada tanto como única forma de tratamento, quanto como coadjuvante do tratamento convencional (alopático) ou alternativo (associada à Acupuntura, por exemplo).

Sabe aquelas doenças crônicas? Casos assim são um prato cheio para os homeopatas veterinários! Temos cinco pets – dois gatos e três cães – e todos são “homeopatizados”. Tivemos a oportunidade de observar a Homeopatia em prática diversas vezes.

Nosso Pastor de Shetland desde filhote apresentava algumas verrugas pelo corpo. Já o nosso Pastor Australiano sofria com coceiras e lesões de pele persistentes, e uma vez teve balanite (inflamação do prepúcio). Tratamos esses probleminhas com homeopatia, e os resultados foram suaves e duradouros. Bastante acessível financeiramente – um frasquinho custa por volta de R$ 10,00 – o tratamento homeopático também tem a vantagem de não causar efeitos colaterais.

Quer entender melhor essa “medicina do indivíduo”, com suas famosas doses ultra diluídas e metodologia única? Aproveite essa seção do Cachorro Verde e se familiarize com a Homeopatia. Periodicamente publicaremos artigos escritos por médicos-veterinários com experiência no assunto. Garanto que você passará a enxergar a saúde e a doença com outros olhos!

Não perca!

Para inaugurar a seção, selecionei uma matéria breve, mas muito bacana, que foi publicada na seção Amigo Vet, da revista Cães & Cia, edição de março de 2008. Agradeço ao editor da revista, Marcos Pennacchi, e à Dra. Cláudia de Paula Ferreira da Costa – médica-veterinária homeopata – por autorizarem a publicação do artigo aqui no Cachorro Verde.

A Homeopatia e seu Pet

Por Cláudia de Paula Ferreira da Costa

No final do século 18, cansado de observar os malefícios causados por sangrias, laxantes, depurativos e outros tantos medicamentos agressivos da época, o médico Samuel Hahnemann procurou desenvolver uma medicina de olhar bondoso para com os pacientes. Denominou-a de Homeopatia (homo = igual, pathos = doença). A idéia era que, com medicamentos capazes de provocar sintomas semelhantes aos apresentados pelo paciente, o sofrimento poderia dar lugar ao conforto e à retomada do equilíbrio pelo corpo adoecido, sem lesar nem causar dor. Diante dos bons resultados, com o passar do tempo médicos famosos e criteriosos adotaram o método, que hoje conta com mais de 200 anos de contribuição para a saúde.

O primeiro a aplicar a homeopatia em animais foi contemporâneo de Hahnemann, o estudioso holandês Boeninghausen. Ele descreveu centenas de sucessos obtidos com tratamentos homeopáticos em cavalos, cães, porcos e outros animais. E, com isso, estimulou médicos-veterinários a usar a homeopatia e a difundi-la.

Múltiplos aproveitamentos
A homeopatia trata o indivíduo como um todo. Não se preocupa apenas com a cistite do gato, com a epilepsia do cão ou com a ictiose do peixe ornamental. Trata do Caco, do seu gato, que, por ansiedade, se esconde, adoece e desenvolve sintomas urinários; da Teca, sua Poodle, que, por medo de rojões, tem convulsões; e do Nestor, o seu peixe betta solitário com glóbulos brancos diminuídos e vulnerável que ficou com manchas brancas no corpo.

Atualmente, diversos médicos-veterinários se educam nessa medicina-arte para trazer bem-estar e saúde aos animais. Apesar de a Homeopatia poder tratar de doenças agudas, é com doenças crônicas que são obtidos maiores resultados. Artrites e artroses, infecções crônicas de pele, infecções recorrentes de vias urinárias, convulsões, asma, distúrbios de comportamento, rinites, otites, gastrites, colites e tantas outras afecções são tratadas com sucesso em pets e sem prejuízos para a saúde deles.

Casos de sucesso
De baixo custo e de fácil aplicação pelo proprietário, o medicamento homeopático pode ser preparado em gotas ou em glóbulos, ministrados diretamente na boca ou diluídos em água de beber. A freqüência das doses varia em cada caso, mas os médicos-veterinários, cientes da correria do dia-a-dia dos proprietários, procuram facilitar ao máximo a aplicação do tratamento para que possam ser bem-sucedidos.

Um bom exemplo é o do Lhasa Apso Fredy, de dois anos de idade, que tinha epilepsia verdadeira e se masturbava constantemente. Medicado com dois glóbulos, duas vezes ao dia, em 15 dias Fredy espaçou as convulsões e parou de se masturbar. Hoje, toma dois glóbulos, em dias alternados, e tem vida normal. Está sem convulsões há mais de quatro meses. O peixinho betta, Nabor, que ficava muito parado, sem apetite e com olhos inchados, com apenas duas gotas, três vezes ao dia, voltou a ter olhos de tamanho normal em três dias, a nadar alegremente e a comer com apetite. A Dachshund de quatro anos, Violeta, apresentava diversas piodermites (infecções de pele com prurido intenso). Seus sintomas retornavam sempre que era suspenso o tratamento alopático, à base de fortes antibióticos e banhos medicinais. Quando soube que os sintomas começaram logo após a castração de Violeta, o médico-veterinário receitou um medicamento homeopático em dose única e isso bastou para acabar com os pruridos e as feridas. Há muitos outros exemplos de curas como essas.

Escolha do médico
O sucesso do tratamento está ligado a um bom médico-veterinário, que saiba ouvir e interpretar a história do pet. Numa longa consulta, com a presença do animal, o homeopata o observa e faz perguntas ao proprietário. Informa-se sobre hábitos alimentares do pet, sono, comportamento com pessoas da casa, com estranhos e com outros animais; medos, preferências e sintomas, entre outras questões importantes. A consulta e o tratamento são feitos por animal – a cistite de um paciente não é tratada com o mesmo medicamento dado a outro paciente.

A homeopatia sempre viveu em meio a controvérsias. Mas o dia-a-dia do médico-veterinário homeopata e a qualidade de vida de seus pacientes comprovam a eficácia dessa medicina energética.

A Dra. Cláudia de Paula Ferreira da Costa é mestre em Clínica Veterinária pela FMVZ-USP, especializada em Homeopatia pela Facis-IBEHE e co-proprietária do canil Von Nürburgring (criação selecionada de Pastores Alemães). Atende na CIAVET – Veterinária e Pet Shop, São Paulo. (011) 3744-1505 / (011) 8535-8232. E-mail: ciavet.claudia@gmail.com

Publicado em 14 de janeiro de 2008 por Sylvia Angélico

Bate-papo com uma Veterinária Homeopata

A Dra. Sandra Pinto é a médica-veterinária homeopata da nossa turminha animal. Além de ótima profissional, Dra. Sandra é uma acadêmica de expressão na área da homeopatia veterinária – um mini currículo dela segue ao final da postagem. Como o Cachorro Verde tem um pé bem fincado – ou seria uma pata? rs – nas medicinas ditas alternativas, com destaque para a homeopatia, convidamos a Dra. Sandra pra bater um papo e dividir conosco suas experiências como clínica homeopata de animais.

Como você verá a seguir, a conversa rendeu bastante. Planejávamos um texto de mais ou menos quatro a seis páginas. Mas a Dra. Sandra nos forneceu tanto material interessante, tantos relatos bacanas, que mal tivemos coragem de editar o texto. Se você é como nós e se interessa por homeopatia, essa entrevista será um deleite. Se ainda não conhece o assunto, aproveite a oportunidade para expandir os horizontes!

Cachorro Verde: Por formação, a doutora é médica-veterinária alopata. O que a levou a querer atuar como veterinária homeopata?

Sandra Pinto Nos tempos da faculdade de Medicina Veterinária eu tinha alguns cães e um deles tinha um temperamento muito difícil. Masturbava-se compulsivamente, era extremamente dominante, agressivo e mordia até gente da casa. Com o passar dos anos ficou insuportável.

Levei o cão ao veterinário, que receitou um medicamento tarja preta, o Gardenal, para acalmá-lo. Um mero paliativo, porque ele não ficaria mais calmo de verdade, só passaria o dia dopado. Bastaria passar o efeito do remédio para ele ficar louco de novo.

Mais à frente na faculdade me aproximei de uma professora de Clínica que tinha formação em homeopatia. Esse foi meu primeiro contato com essa medicina. O pessoal a chamava de professora do “pirlimpimpim” porque a homeopatia veterinária não era uma medicina comprovada naquela época. Ela criou um curso de três meses sobre homeopatia do qual participei.

Adorei aquela nova abordagem e o histórico dos medicamentos, e pensei em me especializar em homeopatia depois de formada. Esse aprendizado complementaria a minha prática alopática (convencional). Minha idéia na época era recorrer à homeopatia quando a medicina alopática não desse jeito.

Após formada fiz uma pós-graduação em homeopatia. Tornei-me especialista e a homeopatia acabou se tornando minha ferramenta primordial. Mas é claro que se o proprietário preferir o tratamento convencional, deixo a homeopatia de lado. Se for para melhorar a vida de um animal, não descarto alternativas.

C.V. Em que circunstâncias as pessoas geralmente buscam um médico-veterinário homeopata?
S.P. As pessoas nos procuram por indicação de clínico-gerais alopatas ou no boca-a-boca de alguém que teve seu animal tratado com sucesso. Também atendo pessoas que já tomaram homeopatia e que querem tratar seus bichos assim. E por fim, aquelas pessoas que estão no fim da linha, isto é, procurando na homeopatia o último recurso na tentativa de melhorar a vida de seu animal. Esses clientes se encaixam naquilo que os homeopatas chamam de “os 3 D’s: os desiludidos, os desesperados e os desconfiados” – ou seja, gente que já tentou de tudo.

O lado “ruim” é que infelizmente muitos colegas só indicam a homeopatia quando a doença está avançada. Um exemplo disso é o tratamento homeopático do otohematoma (hemorragia dentro da orelha, que “infla” parecendo um pastel). Minha monografia da pós-gradução em homeopatia foi sobre o otohematoma. Com homeopatia o problema geralmente se resolve sem necessidade de partir para cirurgia.

C.V. Quais são os problemas de saúde que a doutora trata com mais freqüência?
S.P.
Os problemas crônicos, ou seja, permanentes, são as doenças que mais aparecem no meu consultório. Por exemplo, pets que sofrem de convulsões e que terão que tomar medicação para o resto da vida. O proprietário quer uma opção que evite o uso prolongado de remédio.

Outras doenças crônicas que aparecem muito: dermatites e atopias tratadas intensamente com antibióticos (pulsoterapia) e corticóides, incontinência urinária, doenças hormonais como o diabetes. O tratamento homeopático também ajuda o animal que está fazendo quimioterapia, os indivíduos que adoecem pelo uso prolongado de medicamentos e os insuficientes renais, cardíacos, respiratórios, hepáticos, pancreáticos. Mas a homeopatia pode ser aplicada a qualquer afecção: de males oftalmológicos a afecções osteoarticulares, como fraturas, displasia coxofemoral e bico de papagaio.

C.V. O que o proprietário pode esperar do tratamento homeopático das doenças crônicas?
S.P.
As doenças crônicas são incuráveis, mas com homeopatia pode ocorrer uma regressão ou estabilização da doença com aumento da qualidade de vida. O animal tratado com homeopatia freqüentemente se torna mais calmo, uma vez que o tratamento atua no físico e no comportamental. Um paciente com traqueobronquite, por exemplo, tratado com homeopatia ficará mais equilibrado imunologicamente, mais tranqüilo (menos ansioso) no temperamento e tossirá menos.

C.V. Do ponto de vista do paciente, quais são as vantagens da homeopatia?
S.P.
Em nossa visão, o organismo não é algo mecânico que deve ser tratado de forma pontual. A homeopatia é uma terapia completa, que trata todos os órgãos ao mesmo tempo. Com isso um único remédio pode trazer muitos benefícios. E dificilmente provocará alguma reação indesejada. Outro ponto a favor é que a homeopatia não é invasiva, nem estressante. Pode ser administrada na forma de glóbulos (as “bolinhas”) que são doces e bem aceitos pelos cães. E os gatos podem receber o medicamento na água ou na comida.

C.V. Já tratou distúrbios de comportamento?
S.P.
Trato direto! Agressividade, timidez, medo, auto-mutilação (lamber a pata, morder a si mesmo), coprofagia (o hábito de comer fezes), manias (como correr atrás do rabo, gato que mia demais), destrutividade, inquietude e ansiedade, ciúmes em excesso e até masturbação compulsiva. Já tratei tudo isso com bons resultados.

C.V. Qualquer profissional médico-veterinário pode prescrever homeopatia?
S.P.
Não. Todos os veterinários se formam generalistas alopatas. A partir daí vão buscar aprofundar-se em suas áreas de interesse dentro da Veterinária. Com a homeopatia é a mesma coisa. Por ser uma medicina completamente diferente daquilo que foi ensinado na faculdade, não deve ser prescrita por um não-especialista.

O mais importante é ter certeza de que o veterinário tem experiência em homeopatia, que fez pós em homeopatia, que faz cursos de atualização, etc. Porque tem muito veterinário receitando sem o conhecimento. Atendo em diversos consultórios e me chateia muito ver alopatas receitando remédios homeopáticos que eles viram que tiveram efeito. Vira e mexe eles erram a mão e isso frustra os proprietários que acham que deram uma chance à homeopatia e que não fez efeito. Um veterinário homeopata estuda dois a três anos e o curso da pós só pode ser feito depois da faculdade.

Pior ainda é aceitar orientação de profissionais que não são veterinários e são de outra área, receitando indiscriminadamente sem respeitar a espécie animal, a sua individualidade e o conhecimento que nós médicos veterinários levamos anos para conquistar. Isso acontece com muita freqüência infelizmente. Além do uso abusivo dos medicamentos que são de prescrição humana (dose, etc.) que são dados ao animal de estimação sem acompanhamento como acontece com o uso de florais, antiinflamatórios, antibióticos, além de outros. Alguns medicamentos receitados para acalmar um cão podem fazer mal e até levar o animal a óbito.

Prescrever o remédio homeopático errado pode resultar em ineficácia e até no que chamamos de patogenesia, que é a exacerbação dos sintomas que você quer combater. Exemplo disso é uma cliente minha que tomava homeopatia para problemas de pele. Por achar o cachorro parecido com ela, passou a dar o remédio também para o cão.

Começaram então a aparecer sintomas na pele do cão, como prurido localizado, bem característico do remédio que ela estava tomando. Isso porque na homeopatia, o remédio que cura o indivíduo enfermo também é capaz de produzir sinais clínicos no indivíduo sadio. O remédio que funcionou para tratar a coceira do cão da vizinha, não será necessariamente o remédio que tratará a coceira do seu cão. Tem que ver o que está por trás dessas coceiras, passar por uma consulta detalhada para descobrir o real motivo do adoecer, etc. A homeopatia trata o doente e não a doença! E o mais importante: individualiza cada paciente minuciosamente.

C.V. Que espécies de animais a doutora pode atender?
S.P.
Por ser uma medicina de tratamento suave e sem efeitos colaterais, posso atender qualquer animal: cães, gatos, aves, ferrets, roedores, coelhos, animais silvestres, cavalos, bovinos. Como não conheço as particularidades clínicas de todos os animais, trabalho junto com um veterinário especialista naquela espécie. Uma curiosidade: até as plantas respondem bem à homeopatia. Mas aí é com o botânico, claro.

C.V. Como está a procura pelo tratamento homeopático hoje em dia?
S.P.
Estamos vivendo uma época de resgate da saúde e do bem-estar. Questões como meio-ambiente, reciclagem, atividade física e cuidados com o corpo e com a mente estão em alta. Conseqüentemente, as pessoas têm buscado aquilo que consideram “mais natural”. Esse tipo de atitude favorece a terapia com a medicina homeopática.

Na verdade, se engana quem pensa que a homeopatia é necessariamente natural ou que mexe com plantinhas – é a fitoterapia que faz isso. A homeopatia é uma Medicina. Não prescrevemos chás, nem receitamos ervas. Tratamos com medicamentos próprios, manipulados por farmácias.

C.V. E por falar nisso, é possível associar o tratamento homeopático a outras terapias alternativas?
S.P.
Em muitos casos, sim. Mas geralmente não é o ideal. Tratar o paciente com várias terapias diferentes simultaneamente dificulta saber qual recurso, ao final, deu certo. E também pode interferir no tratamento. O tratamento floral concomitante é a única terapêutica que barro, porque tanto os florais como a homeopatia mexem com o comportamento.

Para acertar o remédio que o paciente vai tomar, preciso conhecê-lo como ele é. Se o cão ou gato já está tomando florais de Bach, atenderei esse animal alterado. E o pior é que não raro quem receita os florais são terapeutas do proprietário, que nada conhecem de animais. Já com acupuntura trabalhamos bem. Mas algumas terapias ainda não estão comprovadas e isso me incomoda um pouco.

Sempre que possível, o melhor é escolher uma dessas terapias, e se não der certo, tentar outra. No caso de doenças ditas incuráveis até pode ser interessante associar as terapêuticas. Mas é preciso conhecer aquilo que está sendo feito.

Pra citar um exemplo, existe uma planta chamada avelós que ajuda a tratar o câncer. Só que, entre outras coisas, pode trazer danos hepáticos. Ou seja, é a mesma coisa que um remédio, só que natural. As pessoas costumam achar que tudo o que é natural faz bem. Ué, veneno de cobra também é natural. E mata! A camomila é outro bom exemplo. Seu excesso pode provocar cólicas e diarréia. Quer tratar com fitoterapia? Procure um veterinário fitoterapeuta.

C.V. Quais são os principais mitos sobre a homeopatia?
S.P.
São vários, (risos). Vejamos os mais recorrentes:

“Para a homeopatia fazer efeito tem que ter fé.”

A homeopatia não tem nada a ver com religião. Nem com espiritismo. Não é algo zen. É uma medicina. Só pode ser prescrita e acompanhada por um médico, dentista ou veterinário. O pessoal se aproveita do fato de a homeopatia ainda não ter um mecanismo de ação 100% elucidado para associá-la a coisas místicas. Já sabemos que a homeopatia funciona graças à energia do organismo – mas não se trata de uma energia cósmica nem nada assim – e à presença de determinados receptores nas células. Quem está estudando muito esse assunto são os físicos quânticos.

“Se não fizer bem, ao menos não fará mal”.

Se mal prescrita, a homeopatia poderá sim fazer mal. Quem nunca ouviu falar de pessoas que pioraram muito de suas crises após a introdução de um medicamento homeopático? Acontece que o Número de Avogadro (número de moléculas em um mol) de um remédio homeopático é baixíssimo em função das diluições. O medicamento homeopático é virtualmente indetectável no organismo, diferentemente dos fármacos convencionais. Essa é uma das vantagens da homeopatia – é uma medicina que não intoxica o organismo.

“A homeopatia não pode ser explicada e por isso não funciona.”/”Homeopatia é água com açúcar”.

Errado. O mecanismo de ação da homeopatia realmente ainda não foi completamente elucidado. Mas hoje em dia o que não faltam são trabalhos científicos publicados provando que essa terapêutica funciona. O que dificulta um pouco a pesquisa científica da homeopatia é o protocolo mecanicista alopático que deve ser obedecido por qualquer um que queira publicar um trabalho científico.

A prova máxima de que a homeopatia funciona é que até médicos não homeopatas estão prescrevendo certos remédios mais famosos. Receitar arnica, por exemplo, faz parte da rotina de muitos cirurgiões plásticos e dentistas. Está comprovado cientificamente que a arnica ajuda a reduzir o inchaço e a dor. Os glóbulos homeopáticos são de açúcar, mas estão impregnados de remédio homeopático.

“Veterinários homeopatas são hippies e doidões”

(Risos). O pior é que muita gente tem essa impressão mesmo. Que ser homeopata é ser zen! Acham que vão me encontrar chapéu pontudo e que meu consultório é um ambiente new age, lotado de objetos místicos, como incensos, cítaras, e almofadas indianas. Não é nada disso! Aliás, longe disso! Sou médica-veterinária, uma profissional da saúde. Uso jaleco branco e atendo em clínicas normais. Levo meus pacientes a sério assim, como faço com a homeopatia.

“Homeopatia é muito lenta.”

Acho engraçado as pessoas esperarem que a homeopatia resolva em pouco tempo o que a medicina convencional não resolveu em meses e até em anos. Não é a homeopatia que é lenta. É a doença que é crônica, é a doença que é incurável, é o tratamento que vem sendo feito há algum tempo e que já provocou um monte de efeitos colaterais. Por isso é preciso avaliar o comprometimento de cada paciente individualmente. No mínimo, haverá uma melhora da qualidade de vida do animal. Seja como for, não espere um milagre.

Até porque varia muito. Para certos animais, a melhora é extremamente rápida. Tem dono que me liga no dia seguinte dizendo: “Não acredito! Como ele melhorou rápido!”

Eu não tenho como prever dentro de quanto tempo o proprietário começará a notar os efeitos da terapia. Nos casos mais graves, crônicos ou incuráveis o tratamento pode levar 8 a 9 meses. Nos casos agudos a melhora em geral aparece em 24 até 48 horas após a administração.

Também depende do ambiente onde vive o animal, se há obstáculos à cura como transtornos psicológicos. Por exemplo, se o proprietário tem costume de bater no animal, isso estressa o bicho constantemente e atrapalha a recuperação.Um bom veterinário homeopata, que saiba observar dono e pet também é fundamental.

E também tem aquela coisa: o proprietário que traz o animal assim que aparecem os sintomas tem mais chances de ver resultados rápidos. A maioria só experimenta a homeopatia depois de sucessivas recaídas. Quanto mais agudo for o quadro, mais ágil fica o tratamento. E em geral quanto mais crônica a doença, mais demorado o tratamento.

“O paciente precisa ser medicado muitas vezes ao dia”.

Em alguns casos, sim, embora a administração contínua fique mais restrita ao início do tratamento. De acordo com a doença, o paciente pode receber uma única dose, ou uma dose ao mês, ou uma dose por semana, uma dose por dia. Varia muito.

“Homeopatia é placebo. O paciente melhora pelo efeito psicológico.”

Alguns médicos e veterinários céticos dizem que o paciente melhora na consulta homeopática porque permitimos que ele desabafe. A essas pessoas digo “então por que é que vocês não aplicam esse tipo de abordagem nas consultas alopáticas?”

É só pensarmos nos animais tratados homeopaticamente com sucesso, que esse tipo de preconceito cai por terra. Para o animal a consulta e o ato de tomar remédios não surtem efeito psicológico algum.

C.V. Como a doutora vê o futuro da homeopatia Veterinária?
S.P.
Com otimismo. A homeopatia está aí há mais de 200 anos, com um número cada vez maior de especialistas praticantes e pacientes adeptos. A Internet democratizou os artigos científicos que comprovam a eficácia da homeopatia. Os principais eventos acadêmicos e de atualização veterinária contam com palestras sobre homeopatia. Torço para que em breve a homeopatia se torne uma disciplina obrigatória ou mesmo opcional nas faculdades de Medicina Veterinária.

Não podemos ficar presos a apenas uma terapêutica. Cursos que ampliam o leque de conhecimentos nos ajudam a optar por um ou outro caminho. Em comparação com o que era nos meus tempos de faculdade, noto que até o preconceito está diminuindo. Além disso, a homeopatia tem tudo a ver com essa tendência de buscar alternativas que aumentam o bem-estar e preservam a saúde com um mínimo de efeitos colaterais.

C.V. Por que a homeopatia não tem o mesmo prestígio da Medicina Convencional?
S.P.
Porque ela incomoda. A homeopatia pode tratar sozinha grande parte das doenças – ou pelo menos auxiliar no tratamento de todas as doenças. Não pode ser industrializada. Os medicamentos em geral são extremamente baratos. E é uma terapêutica individualizadora.

A homeopatia é uma medicina oficialmente aceita pela Organização Mundial da Saúde há 30 anos, embora exista há mais de 250 anos. Foi o alemão Samuel Hahnemann, o pai da homeopatia, que cimentou e pôs à prova os princípios homeopáticos. Hahnemann criticava a medicina praticada no século XVII, por considerá-la invasiva demais e pouco eficiente.

Ele conseguiu curar muitas moléstias da época e com isso gradativamente ganhou o respeito de médicos e estudantes de medicina. Tudo isso mudou depois da Revolução Industrial, que reforçou a idéia de massificação, inclusive na Medicina. A indústria farmacêutica se adaptou perfeitamente a essa cultura e caiu no gosto da população. Com isso a homeopatia ficou de lado. Quem continuou a praticá-la em grande parte eram pessoas comuns, não médicas, que estudavam e prescreviam homeopatia.

Com o passar das décadas, a empolgação da tecnologia e dos avanços da medicina deu lugar ao reconhecimento de que a medicina alopática, como toda ciência, é incapaz de curar todas as doenças. E a homeopatia, com seus resultados suaves e sua incrível abrangência, voltou a ser estudada e praticada por médicos e estudantes. Mas até hoje, em pleno ano 2009, os homeopatas enfrentam um certo preconceito.

C.V. Como o clínico-veterinário alopata lida com a homeopatia?
S.P.
Percebo que muitos clínico-gerais ainda relutam em encaminhar o paciente para um especialista. Ainda mais para um especialista homeopata. E é uma pena porque diferentemente do que eles temem, eu não interrompo tratamentos alopáticos que vinham sendo feitos. Nesses casos atuo de forma coadjuvante. É o próprio clínico que vai desmamando a medicação. Com o sucesso do tratamento homeopático, por exemplo, um veterinário cardiologista pode sentir segurança em reduzir as doses de um ou mais medicamentos. Tenho plena consciência de que uma vida está em jogo, não posso simplesmente atropelar o que vinha sendo feito antes.

C.V. O veterinário homeopata substitui o clínico-geral alopata?
S.P.
De jeito nenhum! O homeopata não pode e nem vai substituir o clínico ou especialista de outra área. Isso precisa ser divulgado. Nosso objetivo é agregar efeitos benéficos e acelerar o processo de cura. Vejamos o caso de uma fratura óssea. Procedimentos como imobilização com tala e até cirurgia são imprescindíveis. Mas por que não entrar também com um tratamento homeopático para acelerar a consolidação e abreviar o pós-cirúrgico?

C.V. Então dá pra associar homeopatia e alopatia?
S.P.
A homeopatia, em geral pode ser associada a outros medicamentos alopáticos, sim. A exceção são os medicamentos que diminuem muito a imunidade, como os corticóides. Mas pra tudo se dá um jeito. Se o animal estiver fazendo tratamento com corticóides, posso entrar com medicação homeopática desde que o clínico concorde em ir aos poucos diminuindo as doses até retirá-las completamente.

C.V. Se lembra de algum caso no qual o animal foi tratado com alopatia e homeopatia?
S.P.
Atendi a um Lhasa Apso que tomava 150mg de Gardenal por dia, era apático, obeso e mal conseguia se levantar. Dormia o dia todo. Babava de tão lerdo. Com a homeopatia ele voltou a ser ativo e passou a receber Gardenal em doses cada vez menores. Hoje esse animal recebe uma fração do medicamento e pode ser que futuramente pare de tomá-lo completamente. Suspendi o medicamento? Não. Fui trabalhando em conjunto com o veterinário clínico, respeitando as particularidades do paciente.

C.V. Em que situações não se aconselha tratar com homeopatia?
S.P.
Esses dias uma cliente me ligou contando que o cão dela tinha sido atropelado. “Posso levar o animal aí para fazermos só o tratamento homeopático?” De jeito nenhum! O animal precisa receber atendimento de emergência, fazer radiografia, dar ponto, o que precisar ser feito. Uma vez estabilizado, aí sim, esse cão poderá receber o tratamento homeopático coadjuvante. Temos que ter bom senso. A homeopatia não é um milagre, não é capaz de resolver tudo.

C.V. Conte-nos um caso de sucesso que tenha chamado sua atenção.
S.P.
Vou contar o caso do Frajola, um gato siamês que na época da consulta tinha 15 anos. Chegou magro, apático e estava vomitando muito. Suspeitei de doença renal. Fiz o exame físico e comecei a fazer perguntas para conhecer melhor o animal. A proprietária contou que as crises do Frajola pioravam quando ele era deixado sozinho. Contou que ele era muito ligado às pessoas da família, que cuidava da dona quando ela ficava doente, mas que detestava ser agarrado.

Falou que o Frajola mandava na cada toda, inclusive na Pit Bull que convivia com ele! Mandava os outros gatos da casa enterrar o cocô dele na caixa de areia! Mas respeitava a calopsita. Isso porque a ave um dia enfrentou e assustou o Frajola. Imediatamente pensei “humm…esse gato não é tão valentão assim”. Esse é o tipo de informação útil para o veterinário homeopata. Essas são as particularidades que nos levam a escolher os remédios certos.

Pelo perfil do animal, cheguei ao remédio Lycopodium clavatum, que seria administrado quatro vezes ao dia em uma potência baixa. Também prescrevi um remédio para os vômitos que ele apresentava. Ele reagiu muito bem e muito rápido, e logo seus níveis de uréia e creatinina (indicativos de lesão renal) baixaram para níveis quase normais. A dona ficou felicíssima.

Só que, passados dois meses sem doença, o Frajola parou de comer, voltou a ficar debilitado e a miar muito. A uréia e a creatinina tornaram a subir e o exame de sangue mostrou também um processo inflamatório. Aumentei a potência do Lycopodium e receitei um complexo homeopático para melhorar o apetite e aliviar o quadro urinário. A essa altura os outros veterinários que atendiam o Frajola estavam recomendando a eutanásia!

Para nosso alívio, ele começou a comer e, passado um tempo, os níveis de uréia e creatinina baixaram de novo, ainda mais do que da outra vez. Hoje está ótimo! O Frajola ainda faz o tratamento controle e toma soro. Mas estamos falando de um gato de 16 anos, que estava péssimo, que tinha tudo pra ser sacrificado, e que hoje tem qualidade de vida. Por esse tratamento, fui parabenizada até pela patologista que dava os resultados dos exames dele.

C.V. Anteriormente, a doutora falou em “obstáculos à cura”. O proprietário pode ser um obstáculo à cura?
S.P.
Sim. A consulta homeopática é demorada, pode durar uma hora e meia. Hoje em dia está todo mundo a mil por hora. As pessoas compram animais pra companhia, mas nem têm tempo de curtir a companhia do animal. Saem de casa cedinho, chegam cansados à noite e depois ainda saem de madrugada. Muitos dos problemas de saúde que observamos hoje nos pets decorrem dessa situação.

Também tem o proprietário que não observa bem seu animal ou que não passa as informações de que precisamos. Para a homeopatia o importante são os detalhes. Relatar que o animal vomitou não é suficiente. Preciso saber a cor desse vômito, cheiro, aspecto, de quanto em quanto tempo, o que agrava o vômito, o que melhora, o canto da casa escolhido, etc. E muitas vezes as pessoas desconhecem esses detalhes.

Se você não conhece seu pet, tudo bem. Volte pra casa, observe o animal e depois me procure para complementarmos ou ajustarmos o tratamento. Outra idéia é permitir que uma pessoa que conheça melhor o animal venha à consulta. Recentemente atendi uma mãe e sua filha que trouxeram um cão agressivo. Mas não acertei o remédio.

Na próxima consulta veio o motorista, que era quem conhecia o animal. Foi outra coisa. Ele contou que o cão mordia porque era constantemente provocado pelas donas, por irritabilidade. Aí acertei o remédio. O cão melhorou, mas a proprietária continuou atazanando o cão, que continuou avançando nela. Moral da história: consultas baseadas em informações mentirosas ou superficiais levam ao insucesso do tratamento.

Outro problema é quando o dono projeta a si mesmo no animal. Uma impressão errônea atrapalha a busca do veterinário homeopata pelo medicamento certo. Casais podem ser muito indecisos em relação ao temperamento do animal. O marido muitas vezes atribui a nota 10 para a freqüência de latidos do cão, por exemplo, e a esposa diz que não é tanto assim e que o cão está na verdade conversando.

C.V. Em se tratando de um filhote recém-adquirido ou cão ou gato que acabou de ser retirado da rua, é natural que o proprietário não conheça bem o animal. Será possível tratar esses casos com homeopatia?
S.P.
Sim, com certeza. Tratarei esses casos como trato animais de rebanho. Apenas terei uma abordagem mais organicista, ou seja, o tratamento vai estar mais voltado para os sintomas. Para chegar ao remédio certo, usarei a história dele e aquilo que o animal me mostrar.

C.V. Quais são as diferenças entre uma consulta alopata e uma homeopata?
S.P.
A parte do exame físico na consulta do homeopata e do alopata é a mesma. A diferença está na anamnese, que são aquelas perguntas que os veterinários fazem aos proprietários no intuito de entender o que está acontecendo e conhecer melhor o animal. Nosso questionário é extremamente detalhado porque individualizamos cada paciente.

Fazemos perguntas que a maioria das pessoas nunca ouviu de um veterinário. Pergunto se o cachorro é ciumento, como ele demonstra isso, em que circunstâncias. Se ele é possessivo com algum brinquedo ou vasilha. Se apresenta rituais, se tem manias, comportamentos repetitivos e cíclicos. Quando o cliente percebe que a consulta é desse jeito, fica logo à vontade para contar em que situações o bicho age de maneiras diferentes.

Com isso, a consulta pode durar até uma hora e meia. Isso porque temos que cobrir muitos detalhes, explorar bem cada sintoma e particularidade. Respostas simples e únicas, como “sim”, “não” não nos interessam. Mas quanto mais estranho, raro e peculiar for o sintoma, mais fácil será determinar qual é a medicação certa. Um exemplo: uma proprietária descreveu as fezes de seu ferret como estando “encobertas como se fossem casulos” e foi isso, associado a outros sintomas, que me ajudou a chegar no remédio.

C.V. Até que ponto o sucesso do tratamento também depende do médico-veterinário homeopata?
S.P.
Depende bastante do homeopata, não vou mentir. E existem profissionais inexperientes e desatentos como em qualquer área. O curioso é que quando procuramos um cardiologista, ou qualquer outro médico especialista, e ele não resolve nosso problema, imediatamente procuramos outro. Com a homeopatia as pessoas já têm uma tolerância muito baixa. Se o tratamento não deu certo, elas culpam a homeopatia e não o profissional.

C.V. Que dica a doutora dá para uma pessoa que não obteve sucesso no tratamento homeopático?
S.P.
Mude de veterinário. E saiba que o insucesso no tratamento também pode ter ocorrido porque o cliente não conhece bem o animal ou não soube se expressar. Veterinário e cliente têm de estar atentos aos detalhes. Alguns bichos, pela cronicidade da doença, por efeitos adversos do uso prolongado de medicamentos ou por outros fatores, podem não responder ao tratamento. É bastante raro, mas pode acontecer.

E também existe a responsabilidade da farmácia que manipulou o remédio. É por isso que todo homeopata tem as farmácias de confiança que ele gosta de indicar. E chegando na casa do cliente o remédio tem que ser armazenado de forma adequada para não perder os efeitos. Não pode ser deixado perto de computadores, televisores ou outros aparelhos eletromagnéticos, nem exposto à luz muito intensa ou a cheiros fortes como o da cânfora.

Não acredito numa medicina que resolva tudo sempre. Quando chegamos a uma barreira, é preciso ter a humildade de reconhecer que o tratamento não está dando certo e procurar outro caminho.

C.V. Como a doutora descreveria a situação da homeopatia no Brasil atualmente?
S.P.
Não sinto que a homeopatia esteja passando por dificuldades. Mesmo com o Brasil em crise, cada vez mais pessoas estão procurando a homeopatia. E a onda natureba de hoje só aumentou a aceitação. É incrível como os valores mudaram. Quando eu estava no colégio, e nem faz tanto tempo assim, fumar era considerado bonito, elegante, fazia do fumante um cara seguro, ousado. Felizmente eu não fumo! Hoje em dia, sabemos que a pessoa que não se cuida, que não se exercita, está longe de um equilíbrio físico e mental. A tendência é melhorar a qualidade de vida das pessoas e dos animais cada vez mais.

Com a Internet as pessoas estão descobrindo que outras terapias poderiam tratar uma insuficiência renal que seu pet teve. O animal é condenado à morte depois de inúmeros tratamentos sem resultados e só depois o proprietário descobre que outras terapias poderiam ter ajudado ou mesmo curado o cão ou gato. Se a gente sabe que há outras ferramentas, por que não dar uma chance a elas?

O que falta são colaboradores. Outras pessoas que não acreditam no fim da linha. Veterinários dispostos a indicar outras saídas antes de recomendar a eutanásia de um paciente.

C.V. Por que a acupuntura no geral enfrenta menos preconceito que a homeopatia?
S.P.
A acupuntura é bastante abrangente. Mas a maioria das pessoas e até dos veterinários só associam o tratamento de acupuntura com males da coluna, quadros osteoarticulares e dores. Desconhecem que ela pode tratar de tudo, até ansiedade por comida. Mas é conveniente restringir a acupuntura ao tratamento de problemas específicos. Restrita, a acupuntura ganha mais espaço porque não é encarada como concorrente direta do clínico-geral e de outras especialidades.

Um exemplo disso é um laboratório veterinário de renome localizado em São Paulo que oferece aos clientes as principais especialidades veterinárias, incluindo acupuntura. Mas não têm um veterinário homeopata. Uma vez perguntei o porquê disso. Responderam-me “porque o homeopata compete com o clínico-geral.” Ou seja, tudo se resume ao receio de perder o paciente. Outro atributo que pesa em favor da acupuntura é o fato de ser uma medicina milenar, com muita credibilidade.

C.V. O que a doutora pensa a respeito da dieta natural divulgada pelo site Cachorro Verde?
S.P.
Confesso que eu era muito crua em relação ao assunto “alimentação” – igual a essa dieta! (risos) Vira e mexe atendo animais que não se sentem atraídos pela ração. E sempre senti falta de receitar a esses pacientes outro tipo de alimentação que não fosse obrigatoriamente a ração. Não receitava por falta de conhecimento mesmo.

Na faculdade a gente aprende “nutrição de ração”, que a ração é indiscutivelmente o melhor alimento para o pet, etc. E acabamos ficando parados nisso. A ração é balanceada, é pratica. Cães e gatos descendem de animais que viviam em ambiente natural, que caçavam. E o que nós fazemos? Coibimos os instintos naturais de nossos bichos. Brigamos com eles quando cavam buracos no jardim, quando rolam na lama e oferecemos poucas oportunidades realmente estimulantes para eles.

O Golden Retriever, uma raça de cão de porte grande, desenvolvida pra caçar, pra nadar, é um bom exemplo disso. Quantos deles não estão esquecidos no fundo do quintal ou presos em apartamento, passeando duas quadras uma vez ao dia? Não é à toa que estamos atendendo tantos quadros de atopia (uma alergia de pele), distúrbios de ossos e articulações e desvios de comportamento.

Acho muito bom que a dieta natural, com suas carnes cruas e ossos, resgate esse lado “animal” do bicho. Sem dúvida é saudável. Indico, pois vejo que traz bons resultados. O apetite aumenta bastante, a pelagem também e noto uma melhora no estado de saúde geral.

Só não recomendo para quem não tem tempo de preparar. Tem que ir à feira, tem que separar as porções, congelar. É preciso ter disciplina, bom senso e consistência. Não adianta fazer direitinho por uma semana, e na próxima fazer a dieta que der na telha. Só pra citar um caso, conheci um coelho que morreu de cirrose hepática porque todo dia comia pão doce e macarrão com molho. Imagina, né? Coelho é herbívoro, comedor de folhas!

Por esse motivo eu preferiria que o animal recebesse o devido acompanhamento de um veterinário, de preferência um profissional especialista em nutrição. Entre uma dieta caseira mal feita e a ração, prefiro a ração.

C.V. A doutora já teve alguma experiência pessoal com a Alimentação Natural?
S.P.
Sim, alimentei um gato por um tempo com AN. Adotei esse gato já adulto, e ele sofria de uma doença incurável, a Peritonite Infecciosa Felina (ou PIF). Quando ele passou a recusar a ração, introduzi a Alimentação Natural. Ele adorou e manteve o apetite até o fim de sua vida, três meses depois. Teve qualidade de vida e morreu tranqüilo, dormindo.

Senti que a dieta suavizou esse processo inevitável e senti que auxiliou o tratamento homeopático da doença. Os veterinários elogiavam o bom estado dele, mesmo com o progresso da doença. Além disso, achei relativamente fácil preparar a comidinha dele. Sei que para cães a receita é um pouco mais trabalhosa.


Dra. Sandra e o nosso Arthur

A Dra Sandra Augusta G. Pinto é graduada em Medicina Veterinária pela Universidade de Alfenas – UNIFENAS, pós-graduada e Mestre em Homeopatia pela FACIS- IBEHE, professora (docente) no curso de pós-graduação em Homeopatia na faculdade de Ciências da Saúde – FACIS e apresentadora do quadro MomentoPet do programa Brasil em Foco na TV ABERTA. Atua na especialização de Homeopatia veterinária de animais domésticos e silvestres e na área de Clínica Geral de pequenos animais. Atende em São Paulo, SP, na clínica Pet da Arca. (011)  5072-8079. E-mail: sandraagp@hotmail.com

Bom apetite e uma lambida do Cachorro Verde!