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Muitos alimentos funcionais que a gente consome podem ser oferecidos também aos nossos cães e gatos com os mesmos ótimos resultados. Nesta sequência de posts vou abordar três verdinhos incríveis: a spirulina, a clorela e a moringa.

Bora conhecer suas vantagens, como inclui-los na dieta do peludo e se existem contraindicações? Nessa segunda parte vou abordar a clorella. A primeira parte, sobre a spirulina, você pode conferir aqui.

Clorella: para fazer um detox daqueles!

Chlorella vulgaris é o nome dessa alga unicelular verde originária de coleções de água doce do sul da Ásia, onde bate bastante sol. O nome Chlorella deriva da palavra grega chloros, que significa literalmente ”verde”, e do sufixo no diminutivo ella, que quer dizer “pequena”. Essa pequena verde foi o primeiro microorganismo a existir na Terra portando um núcleo verdadeiro, há 2.5 bilhões de anos! – embora a spirulina seja ainda mais antiga.

A clorella possui propriedades tão incríveis que motivou não apenas um mais dois estudos que foram premiados com o Prêmio Nobel. Em 1931, o bioquímico alemão Otto Warburg detalhou o processo de fotossíntese da clorella e levou pra casa um Nobel de Fisiologia e Medicina. E em 1961 foi a vez do pesquisador norte-americano Melvin Calvin da Universidade da Califórnia, laureado com um Nobel de Química por descobertas sobre assimilação de dióxido de carbono em plantas usando a clorella.

Tá…mas de que forma a administração dessa alga poderia beneficiar a saúde do meu peludo?

Bem, a clorella impressiona como complemento alimentar, embora seja um pouco menos brilhante que a spirulina nesse quesito. Mas veja só que riqueza nutricional encontramos em apenas 10g de clorella seca (em pó) (1):

Macronutrientes

  • 5,8g de proteína. E trata-se de uma proteína muitíssimo bem absorvida pelo organismo, contendo todos os 18 aminoácidos, além dos 9 considerados essenciais por não serem sintetizados pelo organismo.
  • 2g de gorduras saudáveis.
  • 2,3g de carboidratos (clorella é um alimento com baixa carga glicêmica) e 0,5g de fibras
  • apenas 41kcal

Micronutrientes

  • Vitamina A 5.130UI (3x mais que o encontrado na cenoura)
  • Vitamina C 1,4mg
  • Vitamina E 150mcg
  • Tiamina (vitamina B1) 170mcg
  • Riboflavina (vitamina B2) 430mcg
  • Niacina (vitamina B3) 238mcg
  • Piridoxina (vitamina B6) 140mcg
  • Ácido fólico (vitamina B9) 0,94mcg
  • Cobalamina (vitamina B12) 28mcg (2)
  • Ácido pantotênico 110mcg
  • Cálcio 21mg (quase o dobro do encontrado no iogurte integral)
  • Ferro 13mg (quase 3x o encontrado no fígado bovino cru)
  • Magnésio 31mg (mais de 3x o teor do espinafre cru)
  • Fósforo 89mg
  • Zinco 7,1mg (quase o dobro do encontrado na carne bovina)

E vejamos também elementos não-essenciais encontrados na clorella, mas super benéficos à saúde. Essa alga é riquíssima em ácidos nucleicos – RNA e DNA, que são responsáveis pela produção de proteína, enzimas e energia para todas as células, além de estimular o reparo de tecidos e proteger as células contra toxinas e contra o envelhecimento. A clorella concentra 3% de DNA e 0.2 a 0.3% de RNA, 10x mais que o encontrado na sardinha (3)!

É muito importante manter o organismo dos nossos pets o mais livre possível de toxinas, poluentes e metais pesados. Até porque nosso planeta, nossa casa, nosso ar, água e alimentos estão cada vez mais poluídos. Órgãos como o fígado, os rins, o sangue, as secreções e o intestino promovem a importante função regular de destoxificar, mas eles vão perdendo eficiência com o passar dos anos, não só por conta do processo de envelhecimento, mas porque o acúmulo de toxinas nos tecidos ultrapassa a capacidade desses órgãos. Sinais de intoxicação podem ser vagos (intestino/estômago sensíveis, imunidade meio baixa, excesso de secreção nos olhos, inflamação das glândulas ad-nais etc), podem evoluir para alterações em exames laboratoriais (taxas hepáticas elevadas, hemograma com valores limítrofes ou baixos) e com o tempo até evoluir para doenças graves, como hepatite e câncer.

E é aí que entra a clorofila, que na clorella é 10x mais abundante que na spirulina. A clorofila destoxifica e protege o corpo contra infecções. Veja só quantos benefícios derivam da ingestão regular de clorofila:

  • melhora a oxigenação dos tecidos (tchau, anemia!)
  • atua limpando o sangue, especialmente de metais pesados e poluentes (encontrados nos agrotóxicos, no ar, na água, em aditivos presentes em alimentos e petiscos comerciais, medicamentos, em vacinas e em produtos anti-pulgas e anti-carrapatos convencionais)
  • ajuda a eliminar fungos e bolores do organismo (ótima notícia para cães e gatos que lutam contra a levedura Mallassezia pachydermatis e para aqueles com fungo crescendo no intestino)
  • acelera o reparo e crescimento tecidual (cicatrizando feridas mais rapidamente)
  • otimiza a função destoxificante do fígado e dos intestinos
  • favorece taxas saudáveis de açúcar no sangue (reduz risco de diabetes) (4)

Antioxidantes poderosos, como luteína e beta-caroteno, previnem catarata e danos oxidativos ao DNA das células, afastando o risco de defeitos e mutações que conduzem a doenças crônicas e ao câncer.

O curioso é que a clorella in natura é uma alga pra lá de indigestível. Pesquisadores japoneses em 1975 finalmente desenvolveram uma maneira patenteada de quebrar a parede celular dessa alga a fim de tornar disponível para o corpo sua riqueza de elementos. É por esse motivo que, para ser plenamente aproveitada pelo organismo, a clorella precisa ter sua parede celular quebrada, em forma de pó (ou drágea prensada ou em cápsulas) ou ser fermentada – que é a forma comercial que encontramos à venda.

Vejamos algumas referências cientificas das vantagens de se oferecer clorella regularmente aos nossos pets:

Potente efeito antiinflamatório e modulador de dores (5)

Um estudo publicado em agosto de 2018 verificou que a suplementação com clorella reduziu significativamente a cólica menstrual e todo o incômodo (cansaço, dor de cabeça, náusea e sensação de falta de energia) associado à menstruação em meninas. Isso, porque a alga inibiu a produção de elementos pró-inflamatórios, como as prostaglandinas, a proteína C-reativa e o malondialdeído. Pode ser uma boa notícia para cães e gatos que sofrem com artrose e artrite ou predispostos a males de coluna.

Ação contra células tumorais (6)

Pesquisadores publicaram em um periódico indiano de farmacologia a atividade da clorella inibindo a criação de vasos sanguíneos que contrabandeiam nutrientes aos tumores. Também foi verificado um significativo efeito antiproliferativo deste microorganismo em relação às células cancerosas.

Fortalece o microbioma intestinal (7)

Em 2017 cientistas adicionaram clorella à dieta de leitões para verificar se isso preveniria as diarreias que os filhotes comumente apresentam na época do desmame e que acabam sendo tratadas com antibióticos. Pois a administração desta alga na ração dos porquinhos aumentou o tamanho das vilosidades do jejuno dos suínos, estruturas responsáveis por absorver nutrientes, e se provou útil em solucionar quadros leves de disenteria sem precisar recorrer a antibióticos.

Combate intoxicação por chumbo (8 e 9)

Ratinhos intoxicados com chumbo a ponto de sua medula sofrer danos foram tratados com clorella ao mesmo tempo em que continuaram a receber doses tóxicas de chumbo na água de beber. A clorella reduziu a concentração de chumbo no sangue e nos tecidos e otimizou o funcionamento do fígado contra esse metal pesado. A atividade das células Natural Killer (NK), que destroem células tumorais e células infectadas por vírus, é muito prejudicada quando há intoxicação por chumbo. Mas a administração de clorella não só recuperou os níveis dessas importantes células do sistema imunológico como as deixou em níveis elevados do que nos ratinhos do grupo-controle (que não consumiram clorella).

Previne demência, mantendo o cérebro jovem (10)

Clorella se mostrou hábil em reduzir o estresse oxidativo, que é uma das maiores causas de perda de memória e declínio cognitivo (incluindo a doença de Alzheimer). Pesquisadores incrementaram com clorella a alimentação de ratinhos criados especificamente para desenvolver com a idade disfunções cognitivas. Utilizando técnicas como uso de labirintos e testes de reconhecimento de objetos aplicados aos roedores, os neurocientistas puderam observar que os bichinhos alimentados com clorella apresentaram menos estresse oxidativo e habilidade cognitiva melhor preservada. Outra boa nova para manter afiado o funcionamento cerebral de peludos velhinhos (ou entrando na “meia-idade”).

Ajuda a regenerar o fígado (11)

Ratinhos com injúria hepática aguda foram beneficiados com extrato de clorella. A alga demonstrou efeito hepatoprotetor e foi considerada pelos pesquisadores como candidata para tratar desordens hepáticas e até outras doenças relacionadas ao estresse oxidativo. A clorella conseguiu esse efeito estimulando o fígado a aumentar sua produção de potentes antioxidantes endógenos, como a glutationa e a superóxido dismutase (SOD).

Clorella reduz a transmissão de mercúrio das mães aos bebês (12)

O metilmercúrio é uma substância com imenso potencial tóxico e cumulativo no organismo. Ratinhas gestantes receberam clorella na alimentação ao mesmo tempo em que bebiam água contaminada com metilmercúrio, elemento que é facilmente transmitido aos bebês por via transplacentária. Mas olha só que incrível: os bebês das ratas tratadas com clorella exibiram níveis muito mais baixos dessa toxina no sangue e no cérebro e também mais baixos no fígado e nos rins.

Fortalece a imunidade frente ao estresse (13)

A exposição crônica ao estresse afeta diretamente a medula óssea, reduzindo sua produção de células de defesa. Pois a oferta de clorella pode atuar blindando o sistema imunológico dos efeitos imunossupressores do estresse. Esse efeito foi observado em um estudo publicado em 2013 com ratinhos.

É um alimento com efeito antialérgico (14)

Cientistas verificaram ação imunomoduladora da clorella sobre quadros alérgicos mediados por histamina. A alga preveniu a liberação da histamina pela degranulação de mastócitos e também inibiu a produção excessiva de imunoglobulina E (IgE).  Esses resultados são promissores para cães e gatos com alergias verdadeiras, aquelas que aparecem imediatamente, assim que o pet sensível recebe uma vacina ou aplicação de anti-pulgas ou toma uma picada de abelha, por exemplo.

Dezenas de outros efeitos positivos foram observados por pesquisadores graças à administração de clorella, como tratamento do fígado gorduroso e de desordens metabólicas em ratinhos obesos (15), auxílio na eliminação de estrôncio radioativo (16), redução dos sintomas de dermatite atópica em roedores (17), aumento da capacidade aeróbica em jovens atletas (18), prevenção da sarcopenia (perda de massa muscular magra) em ratos idosos (19), cicatrização mais veloz de lesões de pele (20) e melhora nos níveis de lipídeos no sangue de ratos obesos que recebiam uma dieta muito rica em gordura (21).

Como incluir a clorella e quais são as suas contraindicações

A dosagem preconizada pelo Guia de Princípios Ativos e Formulações DrogaVet (11ª edição) para cães e gatos é de 50mg de clorella para cada quilo de peso do animal. Por exemplo, para nossa cadela Maya, que pesa 5kg, a dose diária seria de 250mg.

Mas introduza bem devagarzinho a clorella. Sem pressa. Essa alga é densíssima em minerais e possui ação de eliminação de toxinas, o que pode causar reações adversas (passageiras) em peludos mais sensíveis, como diarreia, flatulência (gases) e vômitos. Também pode ser normal que as fezes do seu cão ou gato fiquem esverdeadas por conta da clorella.

Não tenha receio de começar administrando 1/4 a no máximo 1/2 da dose indicada ao peso do seu pet uma vez por semana, se possível fracionando essa diminuta dose em duas refeições. Depois passe a oferecer duas vezes por semana. Depois suba para três vezes por semana e assim por diante. Esteja atento ao limiar de tolerância de seu amigão. Se seu cão ou gato parece não tolerar bem a dose cheia, mas fica bem com metade disso, respeite. A clorella não precisa ser administrada diariamente. Duas a três doses por semana já podem fazer uma diferença significativa na dieta e na saúde dos peludos.

Quando o objetivo é uutilizar a clorela como parte do tratamento de doenças crônicas ou em protocolos de quelação (eliminação) de toxinas e metais pesados do corpo, a dose prescrita pelo médico-veterinário pode ser até o dobro ou o triplo da sugerida acima (22). Mas nesses casos é muito importante contar com acompanhamento profissional e introduzir bastante gradativamente a dosagem preconizada.

Por ser um alimento muito rico em proteína a clorella pode não ser indicada a cães e gatos com doença renal avançada. Por conter também doses generosas de vitamina K, essa alga pode atuar “afinando” o sangue e portanto devemos suspendê-la sete dias antes de uma cirurgia e não administrar se o pet estiver com a contagem de plaquetas baixas ou fazendo uso de fármacos que interferem na coagulação. Tem dúvidas se a clorella seria contraindicada à sua cadela ou gata gestante ou um peludo portador de uma doença? Não deixe de consultar sua médica-veterinária de confiança.

Por fim pesquise sempre a procedência desta alga. Prefira comprar clorella cultivada em regiões livres de contaminação, se possível em fazendas certificadas de cultivo orgânico. Ela é menos suscetível a contaminação por poluentes que a spirulina, por conter uma rígida parede celular protetora, mas quanto mais limpinha, melhor. Você encontra clorella em lojas de produtos naturais, físicas ou online.

A primeira parte, sobre a spirulina, você pode conferir aqui.

Referências:

  1. https://nutritiondata.self.com/facts/custom/569428/2
  2. https://veganhealth.org/vitamin-b12-plant-foods/
  3. https://pt.wikipedia.org/wiki/Chlorella
  4. https://articles.mercola.com/vitamins-supplements/chlorella.aspx
  5. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30205315
  6. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24347763
  7. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27452961
  8. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18684395
  9. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21820028
  10. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19699777
  11. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21741806
  12. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22008543
  13. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23246529
  14. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23426977
  15. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27321121
  16. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26828430
  17. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26404252
  18. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25320462
  19. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25305781
  20. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24965517
  21. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24331771
  22. https://www.dogsnaturallymagazine.com/chlorella-for-dogs-help-your-dog-detox-with-this-green-machine/

 

Comunicado do site Cachorro Verde

As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança. Obrigada por acompanhar os canais do Cachorro Verde!