É a primeira vez que falo sobre enriquecimento ambiental por aqui. Demorou, né? Um tema tão importante, especialmente para quem, como eu, divide um apartamento com seus pets.
Por dez anos, vivi com meus cães em uma casa térrea com um amplo gramado. Eles tinham acesso livre ao jardim, onde deitavam ao sol, pastejavam, farejavam, comiam coquinhos e insetos, escavavam ossos, perseguiam passarinhos. Mesmo com passeios regulares, o ambiente oferecia estímulos naturais variados.
Depois da mudança para um apartamento, meus cães já eram idosos. Tranquilos, se contentavam com os passeios. Só recentemente me dei conta de que minha experiência com cães em apartamento foi com cães velhinhos… até a Zuri chegar em dezembro: jovem, esperta e, como avisou uma das moças da ONG, “ligada no 220”.
Pensei: “Nada que bons passeios não resolvam.” Pois bem, duas horas de passeio por dia não davam conta. Zuri descansava e logo queria mais. Corria atrás do rabo, se esfregava no chão, provocava os gatos e tinha zoomies intermináveis.
Busquei ajuda profissional: duas educadoras caninas incríveis e o curso Descãoplica, da Camilli Chamone. Aprendi que passeios são importantes, mas não bastam. E quando chove? E quando a gente adoece? É aí que entra o enriquecimento ambiental (música celestial!).
O objetivo é oferecer estímulos físicos, mentais e sensoriais que permitam ao cão expressar comportamentos naturais como farejar, roer, lamber, usar as patas. Isso gasta uma energia danada, ativa o cérebro, reduz cortisol e libera serotonina – o hormônio do bem-estar. Os benefícios incluem menos comportamentos compulsivos e indesejados, imunidade mais ativa, menos coceira por estresse e até um intestino mais saudável.
Hoje, cinco meses depois, Zuri está bem ajustada. Ela passeia pelo menos duas vezes ao dia, cheirando tudo. Come ao menos uma refeição em comedouro interativo, o lambe-lambe envolvido ajuda a relaxá-la. Dentro do que é possível na minha rotina crio pausas breves para brincar, oferecer um mordedor, brinquedo recheado ou osso recreativo, escovar sua pelagem ou simplesmente curtir uma sessão-chamego. Fazem bem para ela e para mim também.
No carrossel compartilho algumas idéias bastante simples de enriquecimento ambiental que são sucesso aqui em casa.
Passeios conscientes
O passeio é sagrado, todo dia tem. Uso uma guia longa para dar um pouco de liberdade à Zuri. Ela corre atrás de passarinhos, localiza camundongos nos arbustos, fareja e demarca muito o território com xixi.
Zuri é meio reativa na guia e come comida jogada na rua, então vivo antenada para desviar de cachorros vindo na nossa direção e de canteiros sujos. Saímos ao amanhecer por 45 minutos e ao final da tarde por meia hora.
Brinquedos recheados
Temos uma pêra da Zee.Dog e um brinquedo da Kong, ambos recheáveis. Algumas vezes por semana coloco um pouco de petiscos naturais e ofereço. Pedaços maiores aumentam o nível de dificuldade. Para esses exemplos, usei manjubas desidratadas da Xig Pet na pêra, e pedaços de carne de pato desidratada da Xig Pet e pulmão de porco desidratado da The Hungry Dog no brinquedo da Kong.
Iogurte no comedouro labirinto
O ato de lamber é ansiolítico para muitos cães – não é à toa que tantos lambem as patas por estresse ou tédio. Bati no processador kefir de leite, mirtilos, banana e um pouquinho de água, coloquei no labirinto e congelei por 2 horas. Para uma versão mais prática, menos calórica e salgada, uso caldo de ossos. É uma ótima maneira de aumentar a ingestão hídrica.
Refeição em tigelas não-convencionais
Pelo menos uma vez ao dia sirvo a refeição em fôrma de gelo de silicone, dentro de chifres bovinos ou no comedouro labirinto, geralmente congelada para estimular o ato de lamber. Além de aumentar o estímulo, alimentar assim desacelera a ingestão para cães que comem muito rápido. As possibilidades são inúmeras. Pesquise #comidanopotenao para conferir dezenas de idéias.
Mordedores e ossos recreativos
Roer é outro hábito ancestral que acalma os cães, além de manter os dentes limpos, as gengivas saudáveis e os nossos móveis intactos. Ofereço um pedaço de um mordedor natural da Lecker ou da The Hungry Dog. Os favoritos são cabeça de pato e de rã, pé de pato e de frango, traquéia bovina, pele de rã e pescoço de pato.
Forrageio
Outra atividade que acalma os cães é farejar. Quem tem gramado pode espalhar pedacinhos bem miudinhos de alimentos que o peludo gosta e assisti-lo de nariz no chão, forrageando atrás dos petiscos. Dentro de casa pode-se espalhar pedacinhos por vários cantos, sem deixar o cão ver, e depois soltá-lo para a “caça ao tesouro”. Para esse exemplo, usei uma pelúcia cheia de tecidos dobrados e micro pedacinhos de carne desidratada.
Para fechar
Enriquecimento ambiental é toda atividade que proporciona estímulo mental e/ou físico e/ou sensorial e bem-estar ao seu cão ou gato. Para gatos, vale brincadeira de caça com varinhas, gatificar as paredes, oferecer caixas de papelão, túneis, passeios com guia, brinquedos com catnip e atividades com alimentos. Dentro da sua rotina, como você proporciona enriquecimento ambiental para o seu pet?
Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945
Comunicado Cachorro Verde
As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.
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