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Todos somos alvos em potencial de vermes intestinais. Nossos pets, mais ainda, porque faz parte do comportamento natural deles fuçar e ingerir grama, terra e 💩 de outros animais e isso os expõe a ovos e cistos de parasitos.

Como vet e tutora de cães e gatos, digo a vocês que vermes fazem parte da vida 🤷🏽‍♀️. Fazem parte da experiência de ter um carnívoro curioso e aventureiro sob os nossos cuidados. Em algum momento de suas vida, mais frequentemente quando filhotes, meus peludos hospedaram algum verme: giárdia, ancilóstoma, dipylidium, toxocara (o ingrato “macarrão” no cocô). 🤢 Tratamos e a vida seguiu.

Filhotes geralmente nascem parasitados e, por terem um sistema imunológico em construção, são infinitamente mais susceptíveis aos parasitos. Na vida adulta o risco de ter verminose cái consideravelmente, mas continua existindo.

É claro que ninguém quer que seu pet tenha vermes. Mas o caminho para preveni-los certamente não passa por privar o seu cachorro de experiências valiosas, como frequentar parques, praças, fazer trilhas etc. Como, então, preveni-los? Como combatê-los? Como costuma ser o caso, existe uma variedade de condutas e protocolos diferentes contra parasitos intestinais em pets na Medicina Veterinária.

Há vets que defendem administrar regularmente vermífugo de amplo espectro a cães e gatos, independentemente da idade, estilo de vida e histórico de saúde. Outros, preferem adotar uma abordagem estratégica que avalia caso a caso e que quando possível combina medidas convencionais (alopatia) e complementares (fitoterapia, dieta, nutracêuticos) – estou nesse grupo. Outros previnem e tratam preferencialmente com medidas naturais.

Principais parasitos intestinais em cães e gatos

Vermes redondos (nematóides)
– Toxocara spp: transmitido pela mãe ao filhote e por ingestão de ovos eliminados nas fezes de pets parasitados.
– Ancylostoma spp: transmitido pela mãe ao filhote, por ingestão das larvas e por via cutânea, causa sangramento da mucosa do duodeno.

Vermes achatados (cestóides)
– Dipylidium caninum, tênia que pode atingir 60cm de comprimento 😱 e que libera segmentos (as proglótides) lembram “um grão de arroz caminhando nas fezes”. É transmitida quando o cão come uma pulga contaminada.

Protozoários
– Isospora spp
– Giardia spp
– Tritrichomonas foetus

Os protozoários podem ser chatos de diagnosticar e tratar, causando reinfecções duradouras e frequentes.

O que podem causar?

A verminose pode causar diarréia persistente ou intermitente (com ou sem sangue ou muco), gases, distensão e dor abdominal, perda de peso e de apetite, fraqueza, pelagem opaca e eriçada e secreção ocular. O verme pode ser visto nas fezes a olho nu (toxocara, dipylidium) ou não (protozoários).

Quando a verminose intensa é intensa e não é tratada, há risco de anemia, desnutrição e intussussepção (“nó nas alças intestinais” causando obstrução).

Abordagem convencional

Geralmente se recomenda administrar aos 15 dias de vida do filhote um vermífugo de amplo espectro, seguida de uma segunda dose 15 dias depois. A partir de então o filhote tipicamente é vermifugado mensalmente até os 6 meses.

A recomendação passa a variar mais a partir dos 6 meses do animal. Há vets que recomendam manter a vermifugação mensal, trimestral ou semestral por toda a vida do cão ou do gato. No Brasil é comum aplicar anualmente uma vacina contra giárdia nos cães.

Minha abordagem

Não sou contra a administração de algumas doses de vermífugo aos filhotes até os 6 meses de vida; eles nascem parasitados e adquirem vermes muito facilmente.

A partir dos 6 meses, passo a recomendar exames de fezes no lugar da vermifugação arbitrária. A cada 3-6 meses é feito o exame coproparasitológico com três amostras de fezes (colhidas a cada 1-3 dias) e também o teste o “Snap” para giárdia.

Essa geralmente é a minha conduta porque vermífugos têm potencial tóxico ao fígado e pode afetar o microbioma intestinal saudável. Vermífugos, em sua maioria, não têm efeito preventivo e, sim, curativo, pontual. Prefiro não medicar quando o pet não demonstra sintomas de verminose e os exames são negativos.

Além disso, quando identifico uma parasitose através dos exames, posso prescrever o vermífugo com o princípio ativo mais indicado para tratar aquela doença específica. Isso aumenta a efetividade.

Ah! A vacina contra giárdia há muitos anos é é contraindicada pelo WSAVA (World Small Animal Veterinary Association) por sua baixa eficácia em prevenir e tratar a giardíase.

Outras condutas

Existem produtos que podem ajudar a prevenir verminoses em cães e gatos: neem, terra diatomácea, homeopáticos. Alguns alimentos também dão uma força, como pequenas doses de alho cru (é seguro a cães; mas não recomendo a gatos), hortelã e semente de abóbora.

Não prescrevo medidas naturais como tratamento principal das verminoses, e sim, como coadjuvantes e auxiliares gentis na prevenção. Se você prefere essa via, conte com acompanhamento de um vet experiente e tenha bom senso. Uma verminose mal tratada pode gerar disbiose ou doença inflamatória intestinal crônica.

Depois da vermifugação costumo prescrever protetor hepático e probiótico para recuperar o microbioma.

Os pontos mais importantes:

  • Verminose intestinal é algo nojento, mas faz parte de ter um pet!
  • Existem maneiras diferentes (e válidas) de abordar as parasitoses.
  • Procure uma vet alinhada com sua filosofia de conduzir a saúde do seu animal.
  • Pets com boa imunidade são naturalmente menos convidativos a parasitos. Invista em dieta saudável, atividade física regular, microbioma intestinal diversificado e evite uso desnecessário de medicamentos.

Sylvia Angélico
Médica Veterinária pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945

Comunicado Cachorro Verde

As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.

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