fbpx

Na maioria dos casos, substituir a ração por Alimentação Natural (AN) impacta positivamente a saúde de cães e gatos, resultando em melhorias como menor queda de pelos, maior vitalidade e fezes com menor volume e odor mais discreto. No entanto, em alguns casos, a mudança pode causar transtornos como fezes moles, vômitos e coceira, frustrando as expectativas dos tutores.

Esses problemas muitas vezes têm causas diretas e fáceis de solucionar. A tutora pode ter pulado a introdução gradativa recomendada ou, sem saber, estar oferecendo diariamente alimentos que soltam o intestino. Em outras situações, mesmo seguindo todas as orientações, o pet pode começar a ter – ou voltar a ter – problemas de pele ou digestivos que estavam controlados com a ração.

Casos assim dificilmente são resolvidos sem a ajuda de um veterinário nutrólogo experiente. Dependendo do grau de sensibilidade digestiva do animal, a proteína da ração pode ser menos complexa de digerir e menos reativa do que a da carne in natura. Cães e gatos com disbiose e aumento da permeabilidade intestinal, especialmente aqueles que passaram anos comendo apenas ração, podem ter dificuldades para lidar com alimentos minimamente processados. Isso pode resultar em gases, cólica, barulhos abdominais, vômito e fezes com muco ou aquosas, causando muito desconforto aos pets.

A ração, especialmente a hipoalergênica e gastrintestinal, parece funcionar melhor porque fornece proteína simplificada e menos reativa, em menor quantidade, e possui uma composição fixa e estável, à qual o trato digestivo sensível se adapta mais facilmente.

Não estou dizendo que um pet com problemas digestivos crônicos que se adaptou bem à ração não pode tolerar AN. Praticamente todos os dias recebo essa queixa e, na maioria das vezes, consigo instituir uma dieta natural. Contudo, é preciso ter ciência de que o caminho para a recuperação dos processos digestivos pode ser longo e envolver diversas estratégias terapêuticas, como nutracêuticos, transplante de fezes e adoção de uma AN bastante específica. A individualização é essencial nesses casos.

Seu pet não reagiu bem à AN? Confira abaixo o que pode estar acontecendo e como ajudá-lo.

Introdução gradativa

Essa é a causa mais frequente de vômito ou diarréia no início da Alimentação Natural (AN). Recomendo realizar uma substituição gradual da ração para a dieta natural. Ao longo de 7 a 10 dias ofereça a cada dia 10% a menos da quantidade habitual de ração e 10% a mais da quantidade pretendida de AN. Assim concedemos tempo para os processos digestivos, incluindo o delicado microbioma intestinal, se adequarem à nova dieta.

Alimentos mais arriscados

Abóbora, quiabo, berinjela, beterraba, sardinha, inhame, cará, ovo cru, fígado de frango e qualquer fígado em excesso (mais que 10% do total da dieta) são alimentos que podem causar vômito ou fezes amolecidas em cães e gatos de digestão sensível. Recomendo evitá-los durante o período de transição e, depois, oferecer apenas um pouquinho de cada um deles por vez para verificar a reação do seu peludo.

Intolerância a carnes e vísceras cruas

Pets com boa capacidade digestiva lidam bem com a carga microbiana dos alimentos crus. Mas alguns cães e gatos de digestão sensível têm dificuldade com carnes, vísceras e ossos crus. Para eles, prefiro oferecer inicialmente uma dieta cozida e sem ossos. Se for da vontade do tutor, mais à frente poderemos testar a inclusão de ossos crus moídos e carnes e vísceras mal passadas e depois cruas, de olho na tolerância do animal.

Falta de fibras solúveis

Fibras não servem somente para aliviar quadros de constipação. Elas também podem ter efeito regulador, firmador das fezes. Estou falando das fibras solúveis, aquelas encontradas na chicória, maçã, brócolis, banana, aspargos e batata-doce. Para cães e gatos que apresentam com frequência fezes amolecidas com muco (parece um catarro), gosto de sugerir a adição da fibra psyllium como 1% a 1,5% do total diário da dieta, misturada ao alimento.

Gordura demais

Pets com questões digestivas geralmente não lidam bem com alto teor de lipídios. A gordura atrasa a digestão e exige boa atuação da vesícula biliar e do pâncreas. Prefira carnes e cortes magros, como peito de frango, carne de peru, músculo ou maminha bovinos, filé mignon suíno e filés de peixes, não ultrapasse 5% de inclusão de vísceras secretoras (rim, fígado, baço) e maneire na inclusão de óleos na dieta.

Problemas com a suplementação

Há cães que não toleram bem suplementos comerciais, mas vão bem com fórmulas manipuladas em farmácia. E vice-versa. Também já atendi cães que pioram do quadro de refluxo quando consomem óleo de peixe. Ao suspeitar de reação a algum suplemento, suspenda-o por alguns dias e avalie como o pet reage. Em se tratando de um suplemento essencial, busque orientação para substitui-lo. E lembre-se de sempre introduzir aos poucos suplementos como Food Dog e Nutroplus.

Intolerância ou hipersensibilidade alimentar

Cães e gatos com dificuldades digestivas podem ser intolerantes (apresentar diarréia, gases ou vômitos) ou sensíveis (coceira, vermelhidão, otite) a determinados alimentos, como frango, carne bovina, lácteos e trigo. Essa é uma reação completamente individual do organismo e precisa ser cuidadosamente avaliada e investigada por um profissional experiente para se chegar aos alimentos considerados reativos e, finalmente, adequar a dieta.

Dificuldade de digerir

Animais que reagem mal à AN (mas não à ração) podem inicialmente precisar de condutas de suporte à digestão. Fracionar o total de alimento em 3 refeições menores, servidas trituradas (partículas menores dão menos trabalho para digerir) e mornas ajuda muito. Uma veterinária experiente em prescrição de nutracêuticos poderá prescrever enzimas digestivas, L-glutamina, probiótico, argilas, zeólita e outros como valiosos recursos adicionais.

Considerações finais

Atenção também aos petiscos. Com alguma frequência percebo que a oferta de peças cartilaginosas (vergalho, focinho, orelha etc) causa gastrite ou colite em cães de digestão sensível. Isso, porque a cartilagem não é digerida, podendo gerar fermentação intestinal.

Se as sugestões acima não ajudaram, procure orientação de um profissional experiente e bem recomendado.

Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945

Comunicado Cachorro Verde

As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.

Obrigada por acompanhar os canais do Cachorro Verde!